Precisava tirar uma foto para um documento e me indicaram duas opções: o photomaton que tem no supermercado Monoprix ou um fotógrafo na rue Brézin. Como detesto os resultados desses automáticos, optei pelo especialista.
Ao chegar ao número indicado, encontrei um pequeno estúdio equipado com o que há de mais moderno e um curvado senhor encostado no balcão. Pensei que fosse o avô ou mesmo o pai do fotógrafo, mas realizei logo, logo que se tratava do titular. Era tão ágil e seguro que seus sinais de idade desapareceram pouco a pouco em meu olhar. Colocou-me sentado e com uma firmeza impressionante dirigiu minha postura e minhas expressões: “Levante os ombros... Sorria apenas com os olhos... Erga um pouco seu rosto”. Diante de tamanha competência me senti diante de Tim Walker para a capa da Vogue de dezembro! Com a velocidade típica dos franceses, minutos depois manipulava as provas, definia os enquadramentos e as distâncias na busca do melhor resultado. Decidiu por si mesmo, colocou tudo num envelope e num tempo biônico disse: “Pronto. Se não fosse para um documento teria escolhido mais distância e a foto sairia melhor. Oito euros, Monsieur”. Quase que pedi uma tiragem para mim do modo mais artístico que ele havia assinalado... Mas voltei ao foco e fui providenciar o que deveria ser feito.
Saí impressionado com este senhor de uns oitenta anos que abriu sua alma para acolher a última geração de equipamentos. As paredes amareladas, as máquinas ultrapassadas e a velocidade de uma moviola sem dúvida estão longe da vida dele.
Absorvido pela força daquelas imagens pensei na proximidade da virada do ano. Pensei também nos muitos que recebem o ano novo como um vilão “distanciador” das referências de vida. Como se o novo apenas marcasse mais um traço na proximidade a velhice e as situasse num estatuto de prazo de validade vencido. Escuto muito, mas muito mesmo a expressão descritiva de uma época: “Isto no Meu Tempo era assim...”.
Essa frase denuncia que a pessoa que a diz, de modo inconsciente, já se excluiu do agora. Como se o hoje fosse um tempo do qual ela estivesse impedida de se apropriar.
Muitas pessoas aos 40 anos já se datam nas possibilidades, mesmo neste mundo expandido no qual vivemos. Percebo que a idade em muitos gera um sutil constrangimento no existir, como se estivessem na vida num prazo esgotado e, portanto sem direitos, mas com apenas deveres. Grave culpa, grave autodepreciação e gravíssimo erro de ótica em relação ao que é de fato viver em toda a implícita amplitude.
A morte é sem dúvida uma definitiva retirada da vida, mas muitos fazem uma gradual saída aos se excluírem do tempo atual, ao renunciarem a adaptação e também a possível e fascinante evolução em todas as fases.
Freud aos 82 anos no exílio em Londres devido a crescente perseguição nazista, com um câncer no palato muito avançado, já com 33 cirurgias em seu histórico continuou a evoluir seus pensamentos com ideias potentes e consideráveis até hoje. Foi até aos 83 anos com uma resiliência digna da ideia de “Super-Homem” de Nietsche.
Ouvi pelo rádio, na France Info, que deixo quase sempre ligado para aquecer o idioma em minha mente, a notícia sobre o falecimento de Oscar Niemeyer aos quase 105 anos. Sua longevidade pode ser compreendida através dos projetos que realizou. Seu trabalho arrojado, futurista e de linhas arquitetônicas de muita sensualidade, nos oferece o espelho da modernidade de sua alma e sem a menor dúvida, é neste estado de espírito que podemos reconhecer os vetores determinantes da longevidade física e mental deste imortal arquiteto.
As pessoas acham que se trata apenas de uma questão de manter-se ocupado. A qualidade da vida cotidiana física e psicológica envolve a abertura ao atual... Nossa mente vive das eucaristias, ou seja, se alimenta das ideias que oferecemos a ela. Se alimentar de algo vencido, faz mal ao corpo... Se alimentar de cotidianos mofados faz mal a nossa mente. Tal modo de agir, como bem dizem os franceses, transforma qualquer pessoa em “Décalé”. Ela vive dessa forma em duas realidades a exterior que é o hoje e a interior, involuída e retrógada.
Muitas pessoas apresentam uma alma amarelada pelo tempo...
Sou mais para os pensamentos do que para os equipamentos, mas sempre fui vigilante ao retrógrado para com isto me impedir que eu continuasse a ouvir música em vitrola... Mantenho-me aberto ao novo para que a minha alma encontre lugar no hoje de cada dia. Ponho-me muito atento neste aspecto.
Presto atenção a me inserir também no contexto que se apresenta.
Se uma pessoa desaparece da minha vida, apesar da falta é sem ela que tenho que viver...
Se o tempo esta nublado este é o dia que se apresenta...
Se algo desapareceu é sem isto que tenho que me perspectivar...
As únicas coisas que não podem faltar na minha vida, na sua e na de todos são: o desejo de viver bem e a sabedoria para saber se conduzir. É bom sempre lembrar que estes elementos estão dentro de cada um de nós e só os perdemos se formos displicentes consigo.
Evoluir abrange desde as atividades prosaicas do cotidiano às mais complexas. Em tudo podemos nos aprimorar.
Neste último sábado resolvi me abastecer da ultima geração do celular, um Note II... Confesso que tremi um pouco ao ouvir tudo que ele me oferecia e o implícito domínio que eu deveria adquirir... Pensei em segredo diante da vendedora, uma senhora asiática um “Ás da Tecnologia”... “Ai, Ai, Ai... Como vai ser isto?” Ela ao perceber um resto de espanto que eu não consegui esconder totalmente, me falou: “Senhor, é fácil! É só seguir a lógica. Há uma lógica nisto... Ele é de toque e é só desdobrar neste fluxo.” Pensei nesta hora no fotógrafo da rue Brézin, naquele impressionante domínio e me disse que para os celulares atuais o meu lado psicanalítico quem sabe poderia me ajudar a manuseá-los, pois estão carentes e então basta toca-los para que funcionem. Basta acaricia-los com um dedo para um lado ou para outro para que eles respondam através das funções na velocidade Mega!
Sentei no café Les Philosophes no Marais para refletir e assimilar os comandos do meu novo celular. Pensei na revitalização que impus aos meus neurônios, pensei nas novas sinapses que aconteciam em mim através da minha determinação, pensei também na revitalização do Marais, este bairro de Paris do séc. XVII, que conserva suas características, mas esta de Alma Nova, pensei no Monsieur fotografo, pensei em Freud, pensei no Niemeyer, pensei nas cidades europeias que conservam patrimônios de séculos sem ficarem paradas no tempo, pensei nos urbanistas revitalizadores e concluí...que o importante é conservarmos as nossas histórias sendo um grande urbanista de si.
Para 2013, aproveite o grande símbolo de nascimento do Natal e faça um projeto de modernização na sua alma.
Através da resiliência de Freud, do arrojamento de Niemayer, do determinismo do fotógrafo e das autopercepções, escolha algum bairro de si que precise ser revitalizado e abandone o urbanismo ultrapassado... Vença uma limitação e faça disto a Alma Moderna do Novo Ano.
Vença um traço da sua personalidade limitador de alguma evolução que você tenha que realizar.
Ultrapasse seu luto... Ultrapasse suas carências...
Vença um sentimento persecutório causador do envenenamento dos seus momentos... Uma culpa excessiva, uma mania aprisionadora... Uma tendência a se depreciar...
Escolha algo em você e faça como o fotografo, mude a postura, modifique a expressão e tire a foto de sua Nova Alma.
No Natal de a si este grande presente... Fazer de você uma pessoa de ultima geração... E entre em 2013 de alma nova.
Prepare-se... Ainda há tempo.
O meu Muito Obrigado a todos que contribuíram para que eu pudesse considerar 2012 um Ano que Valeu a Pena ser Vivido.
Feliz Natal em Você!
Até a terceira terça feira de janeiro, quando retorno com as crônicas. Até lá!
Um brinde?
Tome Posse de Si Mesmo e
Feliz Alma Nova!