quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Entrevista para o jornal "O Globo" em Julho de 2020

Entrevista com Manoel Thomaz Carneiro para o Jornal "O Globo"
Data: 06 de Julho de 2020
Por Joana Dale

'É preciso compreender que não estamos aprisionados, mas sim preservados', diz Manoel Thomaz Carneiro
Em entrevista, psicanalista reflete sobre cenário incerto da quarentena





Fonte: https://oglobo.globo.com/ela/e-preciso-compreender-que-nao-estamos-aprisionados-mas-sim-preservados-diz-manoel-thomaz-carneiro-1-24514431


 


terça-feira, 13 de setembro de 2022

Manoel Thomaz Carneiro : Mulher sem prazo de validade. Feminismo e História.





 "Manoel Thomaz Carneiro é psicanalista, psicofísico, palestrante, dá  aulas e promove cursos sempre voltados para o conhecimento do ser humano e suas questões. Nesta entrevista ele fala do empoderamento feminino, do Feminismo e da história dos avanços da mulher á luz da História. Vale conferir com certeza!"

Data: 14 de Maio de 2018

Link: https://www.youtube.com/watch?v=6rlNO9r9_CY

sábado, 10 de setembro de 2022

A Nossa Cidade Invisível

A Nossa Cidade Invisível



Sabe aquela pessoa que somos?

Aquela que fazemos viável para viver?

A visível, que dorme, acorda, come, trabalha, casa, tem filhos, viaja? Não é tudo que você é. Não é tudo que somos.

Quando penso de quais partes constituem a estrutura de uma pessoa, me vem o título de um romance do escritor italiano Ítalo Calvino, Cidade Invisível.

O âmago de nosso ser, não tem comunicação direta com o mundo externo. Ele surge velado sob várias formas: sonhos; pensamentos estranhos; atos falhos; desejos... Temos um porão repleto de aspectos, que para nos manter na civilidade não podem ser destampados e liberados sem uma certa atenção.

Temos uma cidade onde moram partes de nós, que se surgissem em nossa vida cotidiana nos fariam às vezes inviáveis. Dentro de uma mulher fiel, mora a infiel, dentro da disciplina de um trabalhador mora o diletante, dentro daquele que bebe uma taça de vinho mora o que poderia beber mais, mora o que poderia comprar mais, comer mais, xingar mais. Mora na nossa cidade invisível aquele que boicotaria a nossa escolha e a vida civilizada.

No filme de Woody Allen, “Roma com Amor”, poderia se chamar Roma: “Cidade Invisível”, pois fala das relações amorosas, das indecisões afetivas, das escolhas sensatas eternamente ameaçadas por este lado “louco” de nós mesmos.

Pois é... Assim se passa em Roma de Allen, a vida que escolhemos não envolve todos os nossos anseios.

A professora do interior recém casada, que chega com seu marido a Roma, acaba encontrando o seu ator predileto e ali ela se vê diante daquilo que apenas fazia parte de uma fantasia, depois se envolve com o ladrão, representando o sonho erótico do homem viril que sequestra, arrebata e tira uma mulher do seu controle.

No jovem casal americano, surge a outra, que pouco a pouco faz desmoronar os muros defensivos do arquiteto, mostrando que às vezes a espessura de nossas repressões não se sustenta quando a tentação se torna frequente e intensa.

Temos também no filme o papel do anônimo que vive sua vida de casado, dois filhos, de sua mulher que sabe levar o seu cotidiano repetitivo e sonolento, sem grandes angústias até o momento em que a fama instantânea, com duração de uma semana, começa a fazer parte da vida deles trazendo a tona o desejo que temos de prestígio, poder e visibilidade... A partir daí, a vida daquela família perdeu a inocência e quando tudo passa não consegue voltar à mesma existência com a ingenuidade de antes.

Penélope Cruz, que ganhou o Oscar com este filme, é uma garota de programa, toda de vermelho é uma metáfora do diabinho que tenta com seu tridente nos tocar. Ela representa a gama das tentações na vida humana, e como no filme, existem mas não podem encontrar grandes brechas na jornada de cada um. Penélope vive na diluição efêmera e não legalizada nas tardes da vida.

Todas as histórias apresentadas  neste filme por Woody Allen, falam de vontades que estão adormecidas e sublimadas, sem qualquer ameaça a capacidade de viver as escolhas feitas, até o momento em que a “ocasião faz o ladrão”.

O ser equilibrado é formado de podas, de escolhas e de permanente capacidade de recorrer às ponderações que o leva a renomear suas decisões mantendo-se fiel a seus princípios elaborados.

É saber sabidamente que há desejo que não podemos desejar mesmo que o tenhamos.

Nem tudo que é  bom num momento, fará o seu bem no momento seguinte.

Comer muito é bom, mas fará bem se for sem controle?

Assim, através das reflexões e ponderações  construímos com lucidez a vida na cidade visível, a Roma com Amor. Aprendemos também a conservá-la mantendo certas tendências que se tornam perversas, vontades que sinalizam a autodestruição e certos sentimentos na Cidade Invisível.

Não conseguiremos sempre dar conta de zerar os riscos, mas a cidade civilizada é a cidade mantida por algumas Leis Sensatas.

Este filme de Allen continua no prazo de validade , pois é uma narração artística que revela a realidade interna de qualquer tempo..

A arte nos revela e para quem sabe senti-la sempre nos desvela….

É muito bom sabermos que certas questões estão em todos nós…

Melhor vive quem se sabe e lida na prática muito bem com a realidade interna e a civilização….



 

Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Superstições, medos... Quem não os têm?

 Superstições, medos... Quem não os têm?




Conhecemos muitas superstições, não é mesmo? Não passar por debaixo de uma escada; Entrar com o pé direito; Passar o réveillon no Rio se possível evitando a cor preta e outras tantas mais. Algumas seguimos, outras banalizamos, mas de alguma maneira sempre conservamos ao menos uma.

Nos cercamos de todos os modos, de amparos e certezas, para apaziguamos as nossas inseguranças em relação ao nosso destino.

O medo do desamparo é presente na vida humana. Carregamos em nossa essência a difusa sensação de vulnerabilidade.

Desde os tempos mais remotos a humanidade concebia suas idéias de rituais de proteção.

O rei Ceso da Lídia consultou a Pitonisa do oráculo de Delfos antes de atacar a Pérsia. Muitos líderes políticos na Grécia Antiga usavam as profecias para orientar seus governos.

 De onde vem esta necessidade de se antecipar visões futuras e se proteger?

Qual seria a causa humana na busca de tantas certezas?

Chegamos ao mundo com uma “Estrutura Psicológica” que não nos habilita a darmos conta sozinhos da vida.

Por isso, desde que nascemos precisamos de olhos que nos acolham, que adivinhem as nossas necessidades. A sensação de confiança em si mesma, como pessoa, é desenvolvida à medida que os nossos "protetores" nos incentivam primeiro diante dos olhos deles a experimentarmos as ações independentes. Os cuidados que recebemos vão sendo internalizados gradualmente como sensação de amparo, que amortecem as nossas inseguranças, de modo que possamos de certa forma viver com medos mais apaziguados.

A nossa criança é o pai de nosso adulto.

Uma criança que tenha sido bem amparada, fará um adulto com menos superstição.

Freud afirmou que "...a intenção da psicanálise é fortalecer o ego, ampliar seu campo de percepção e aumentar sua organização, de maneira a que possa apropriar-se de novas partes do id” – e concluiu – “Onde era o id, ficará o ego."

O que isto quer dizer?

Onde era a nossa imaturidade e inexperiência, ficará a nossa percepção adquirida. Onde estão nossos calcanhares de Aquiles, nossos pontos fracos, ficarão também as boas certezas sobre si mesmo.

Pois é, sobrepondo as nossas inseguranças com experiências, vamos criando um ego que nos habilita a viver melhor.

Esse sentimento de poder contar consigo mesmo, nos propicia um sossego em nosso interior. Não conseguimos nos abastecer de toda confiança para não se ter algum grau de medo. Por isso uma pessoa sempre terá em si uma necessidade de algum amparo. Uns buscam na fé de uma onipresença divina sob a forma de um olho de "Deus Pai Todo Poderoso", outros se apaziguam nas certezas adquiridas através das ideias, outros sob a fé nas máximas filosóficas se fortalecem, diante de uma certeza por assim dizer mais intelectualizada. Não importa, seja ela uma fé socrática, ou divina o importante é nos abastecermos de certezas que nos promovam o sossego na nossa alma. Dessas certezas brotam as Lutas mais Serenas. Germinam em cada um de nós Olhos que nos Olham.

O importante é encontrar uma ideia que nos sustente.

Boas ideias nos encorajam e lembrem-se: coragem não é ausência de medo.

Aprendi há um certo tempo em Paris com um enólogo, que dentre as uvas a que mais tem antioxidantes é a Pinot Noir da região de Bourgogne. Cultivada em terreno adverso, ela precisa criar muita resistência para brotar. Vencer a adversidade da aridez, faz a uva ganhar propriedades únicas. Uma taça de Pinot Noir nos protege.

Da mesma forma que a aridez do terreno faz as uvas mais resistentes, nossas adversidades enfrentadas também nos fazem potentes, saborosos e interessantes como um bom vinho.

O melhor amuleto para nossas incertezas vem de nossa determinação “Pinot Noir”.

Para você desejo:

Saúde e boas safras existenciais. Cruzarei os dedos para que você as tenha sempre!!!


Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico

Imagem: https://br.depositphotos.com/10529727/stock-illustration-superstition.html