Outro dia enquanto pensava na superação me veio a mente uma reflexão que li do escritor Alexandre Lacroix que está com o lançamento do romance “Voyage au centre de Paris”.
Lacroix, diretor da “Philosophie Magazine”, reflete no editorial a passagem dos acontecimentos através da imagem de um avião na decolagem e assim nos fala: “O aparelho se acelera sobre a potência dos motores, as rodas deixam o asfalto e você começa a viver a estranha sensação de afundamento na poltrona, sinal que começa a ganhar altitude. Pela pequena janela oval você vê um veículo que transporta bagagens, depois a torre de controle, depois o aeroporto... Por sorte o tempo está claro e alguns minutos mais tarde a teia de aranha das ruas da capital com seus monumentos remarcáveis se formam em sua visão... A mesma coisa para a nossa história...”
A linha de ideia deste escritor se misturou a minha e pensei: Cada período de nossa vida, cada acontecimento, para ganhar maior perspectiva é necessário se desligar através de uma decolagem indispensável. Nela uma imagem clara se forma em nosso interior como a teia de ruas de uma cidade fica toda visível em nossos olhos através da altitude e distanciamento que o avião nos posiciona ao alcançar a altura.
Para que uma pessoa possa compreender uma passagem da vida ou aspectos maiores de uma situação que esteja imersa precisa muito mais do que reunir arquivos de conhecimento sobre a situação. A dimensão objetiva das situações é insatisfatória para conquistar claridade sobre uma experiência. É necessário conquistar um sentimento subjetivo de modo a colorir os fatos para que possa a pessoa ampliar a visão de si diante das coisas através do distanciamento que a decolagem proporciona.
Um levantar voo já é a permissão de sair de um lugar rumo a outro, já implica na disponibilidade para realizar um percurso veloz e elevado de novo pensamento.
Na sexta-feira, véspera do carnaval no Brasil, eu estava num café na rue de Rennes e quando fui pagar a conta... Onde estava a minha bolsa? Lugar algum. Levaram!!! Roubaram!!! Café vazio às 18:00h.
Nunca havia sido assaltado em minha vida... Aconteceu aqui em Paris para engasgo dos franceses que conheço que sempre perguntam sobre os assaltos no Rio de Janeiro.
Passei uma semana, com providências para cancelar cartões, invalidar celular, ir à polícia, ao consulado para obter o documento chamado “Laissez Passer” e com altos e baixos fiz o luto. Agora estou direcionado no porvir, no projeto do novo curso que se aproxima e como me bem aconselhou a Sandra do consulado: “Faça uma crônica sobre os seus sentimentos e comece então a ganhar com a perda. Aproveite para dizer aos brasileiros para ter atenção, pois a moda agora é assaltar nos lugares fechados; Um casaco que desaparece no restaurante, a bolsa que se desconstrói enquanto você pega algo no Buffet do café da manhã, o cofre do quarto roubado em que o hotel não se responsabiliza”. Adorei ser aconselhado e como agradecimento ao acolhimento carinhoso, bem obediente dou o recado e igualmente obediente escrevo estas linhas.
Hoje levantei pela manhã com a determinação de “decolar-me” desta história e me distanciei do que era irreversível...
A vida também leva conteúdos e pessoas que gostaríamos de jamais perder. A vida às vezes assalta rápido, sem margem de tempo para reagir e se defender, mas ela também apresenta o seu aspecto justo:
Somos fundadores livres do modo pessoal de reagir e de se perspectivar diante de cada assalto a um sonho, um desejo, uma realidade ou mesmo um amor.
Se perspectivar é se libertar, é alçar voo e com isto ganhar distância.
Se perspectivar é perdoar.
Como falou Nietzsche na “Segunda Consideração Intempestiva” é importante saber se refugiar na veneração das grandezas para se persuadir que não há mais o que fazer.
Como um amigo me disse: faça um projeto de reposição gradual, como se fosse uma chance de renovação. Já fiz meus novos óculos, já repus minha moedeira, uma nova bolsa com a solidariedade das pessoas próximas... Um roubo leva, mas um roubo traz... O que aporta para mim? O testemunho da solidariedade, até da polícia francesa, hoje passado uma semana uma agente me ligou para saber notícias e fazer recomendações...
Se virar para o passado, qual o interesse? Numa história de antiquários permanece o que tem profundo valor...
O que tem valor?
A percepção da “Capacidade de Existir” diante do que inexiste diante do que poderia desaparecer, mas persiste em permanecer, diante de tudo.
Levantei voo em direção ao que ninguém tem condição de roubar o Poder de Continuidade Apesar dos Pesares.
Para 2013 inauguro os cursos com o tema – Capacidade de Existir –
Aliás, é com ela e através dela que o ser humano cria e recria a si mesmo.
É com a capacidade de existir que o que desaparece de nossa vida fica impedido de fazer desaparecer a nossa própria vida.
Assaltos podem servir para saltos de percepções da imensa capacidade que temos de diante dos problemas encontramos a derivadas soluções.
Dia 05 de Março Turma de Terça-feira
Horário: das 14:30 h às 16:30 h
Dia 06 de Março Turma de Quarta-feira
Turma da Tarde / Horário: das 14:30 h às 16:30 h
Turma da Noite / Horário: das 19:30 h às 21:15 h
Até Lá! Decolo em breve em direção ao Rio de Janeiro.
Na Bagagem? A Capacidade de Existir.