sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Você se Parece Com o Que? Com o lugar externo? O que a define?


Toda vez que entro em um período de pausa nos cursos que ministro, deixo de lado os livros tão presentes em minha vida e me ponho a ser pesquisador em banca de jornal.

Adoro, para descansar a cabeça, folhear revistas e como um devaneio descompromissado me ponho a ler uma a uma. São pinçadas revistas de decoração, de psicologia orientada para o público feminino, bem como outras tantas.

No sábado estava com espírito buscador de ineditismos e lá fui com olhos aventureiros em busca de algo novo. Encontrei uma revista linda, folha e capa de primeira e com adrenalina comprei-a.

Preparei-me para fazer a descoberta e com a manta me aninhei.

Ao abri-la vi que se tratava de uma revista sobre festas cool e DJs. Que decepção a minha! Nada a ver comigo. Só tinha comprado esta.

Nada a fazer!

Comecei então a pensar nos questionamentos que havia colocado  numa das aulas do segundo semestre de 2022 “– Qual a sua maior identificação atual?”

“– Você está parecido com o que?

– Você está parecida com quem?”

A minha revista estava destituída de qualquer elemento identificatório comigo. Era um significado que não se tornou significante. Eu, portanto não tinha identificação alguma com ela.

Pensei nas identificações que temos na vida. 

Você pode se identificar com mar ou piscina, cidade ou floresta, com cão ou com gato, com filme francês ou americano, com cabala ou com o budismo. Cada coisa irá definir a sua pessoa, o seu estilo e o seu perfil.

Mas além dessas existem também as identificações com as circunstâncias, com os sentimentos, com as realidades e com os acontecimentos positivos ou negativos.

Você já se fez esta pergunta? Já se indagou o por que você carrega um sentimento há tanto tempo?

Você está parecido com o que? Com o abandono que alguém trouxe a você e passou a viver como pessoa abandonada?

Você está parecida com o vazio de uma ausência e se tornou o vazio?

Está sem perceber fixada nas situações que criam apenas os sentimentos ruins?

Deixou de se identificar com as coisas que estão corretas e boas e está projetada nas identificações negativas?

Se sim, está então na leitura da revista errada que não trará nada de construtivo para você.

Identifica-se apenas com os vazios, as doenças, os remorsos e as faltas? Tem dúvida que o seu rosto será o reflexo do que você se identifica?

Como Freud afirma, é através das nossas identificações que estruturamos nossa realidade psíquica e através dela é que vamos sentir a vida.

Tornamo-nos coerentes com aquilo que nos fixamos, identificamos e introjetamos.

Se você só se alimenta das coisas que faltam ou que estão com defeito de modo algum poderá sentir satisfação em si mesmo, em relação à vida ou em relação a alguém.

Somos modelados através daquilo que mais olhamos.

Toda vez que alguém descobre no curso que sou filho da Virgínia, aquela que realizava palestras sobre testemunhos de vida em vários locais, ouço: “Você se parece com ela.”

É fato! No modo de ser por me identificar com muitos aspectos dela e também de meu pai, assimilei e tudo passou a fazer parte da minha psicológica corrente sanguínea.

Já percebeu se você está reproduzindo algum padrão de comportamento da sua avó melancólica?

Você está parecido com o seu tio amargo?

Você está parecida com a sua mãe ressentida?

Você se torna a imagem e semelhança de suas identificações conscientes ou inconscientes.

Encontrei por acaso um conhecido que há muito não o via e que me contou que teve um problema no ligamento do tornozelo esquerdo. Contou-me que ficou um mês sem poder colocar o pé no chão. De muleta depois de uns dias se tornou impossível andar, pois machucava a palma das mãos. Disse-me que se pôs a encontrar uma solução. Como atendia em casa para trabalhar era mais fácil, mas para realizar a rotina diária tudo estava complicado. Parou, pensou com identificação em encontrar uma solução e a mente então trabalhou sob este comando e criou uma alternativa para ele: Imaginou uma mochila nas costas para carregar o que precisava de um lado para outro e para ficar livre da muleta passou a engatinhar… Ao se dar esta solução encontrou um modo de se perspectivar. Impediu-se de se identificar com a limitação e buscou uma identificação operacional, produtiva e positiva.

Mudou o seu foco. Olhou e elegeu para se identificar com a perspectiva de uma solução.

Mudança de foco é um ato de amor, de amizade a si, de generosidade e gratidão com o tempo que a vida nos oferece para viver.

Quando desejamos um “Feliz Ano Novo”, queremos que o ano seja diferente mas, na verdade será uma sequência de 24 horas… O que é pode ser potencialmente novo? Nosso modo de atravessamos as horas… O que pode ser “Novo” é atravessarmos o habitual em nós, o engessado… 

Novo é agregar em nosso Eu peles novas… 

Renovação do Eu é nascimento… E tudo que nasce traz entusiasmo e portanto felicidade interior.

Ganhei na última aula de uma aluna um livro intitulado “Poesia Completa de Manoel de Barros” da editora Leya, que achei a minha “cara”! Ao abrir me deparei com um trecho que transcrevo:


“Ando muito completo de vazios.

Meu órgão morrer me predomina.

Estou sem eternidades… 

Enfiei o que pude dentro de um grilo.

Essas coisas me mudam para cisco… 

Estou deitado em compostura de águas.

Na posição de múmias me acomodo.”


Assim se fez este interlocutor… Enfiou a vida em algo mínimo, que o fez cisco, e se posicionou como múmia a espera de outra vida para viver…  Se tornou isso pois assim elegeu esta forma de ser para se identificar. Se fez pequeno, se fez cisco e se tornou múmia. Engessou-se para as perspectivas e se tornou petrificado.

Você sabe se dizer?

Vai se colocar deitado como múmia a espera de outra encarnação para ser o que pode ser agora?

Comece engatinhando… Com o tempo você irá se equilibrar nas boas identificações. Naquelas que trazem a melhor versão de você mesmo.

Eu, como se diz, não morri na praia.

Fui à banca, expliquei-me e troquei por outra revista.

Remova as identificações que mumificam e engessam as linhas negativas de ser.

Escolha bons momentos para se identificar, boas pessoas para se modelar e se perspective através das identificações positivas.

Saiba Ser.

Você se parece com o que?

Pode ter certeza: com aquilo que você escolhe para se identificar.

Portanto: seja plástico, mais do que plástica, renove a face do seu Eu…

O que acontece?

Se você assim fizer, verá… 

A felicidade do entusiasmo de apesar dos tropeços, colocar na mochila psíquica um ser renovado… 

Felicidade… A idade nova interna Feliz.

Entusiasmada.

Pense nisto!


Manoel Thomaz Carneiro

Psicanalista/Psicofísico

Crédito da Imagem: Patricia Secco (@patriciaseccoarte) 

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