Ao saber sobre o atentado de quinta-feira em Nice, em que um caminhão a 90 quilômetros por hora avançou sobre a multidão e provocou 85 mortes e deixou dezenas de feridos em estado gravíssimo, em meio à queima de fogos dos festejos de 14 de Julho, pensei sobre a indiferença do destino diante das vidas.
Reportei-me imediatamente às Moiras da mitologia grega: as três irmãs que tecem, com a roda da vida, a trama do nosso destino. Sem saber nada a respeito de cada indivíduo, elas definem acontecimentos que não irão pedir licença para chegar e tampouco bater à nossa o porta para perguntar se estamos prontos. O ponto da costura, do fio, é dado. A trama é confeccionada. Nossos destinos são tramados e traçados.
Se, por um lado, somos vulneráveis a essas tecelãs da vida, incapazes de fazê-las avaliar o que traçaram para nós, se não podemos argumentar com elas, fazê-las ouvir ou indicar como viver cada ponto tramado, por outro temos a liberdade de abrir nossas ideias à continuidade da vida.
Se no mundo sobrevivente a vida prossegue, a força terrorista se enfraquece. A potência da continuidade abala a intenção destruidora. O terrorismo mata gente inocente para matar a paz de todos no viver. É aí que a maldade se fortalece: ao gerar o pânico global.
Nossa primeira arma está em enfraquecê-los através da continuidade do viver.
As Moiras preparam os tsunamis, os vulcões, os terremotos. Mas a humanidade continua não sendo uma espécie em extinção. Perpetua-se ao encontrar soluções e desejo de continuidade.
Já o ser humano cria as guerras, os atentados, a tortura e o abandono. Por vezes, no cotidiano, há caminhões que esmagam nossas alegrias com ações e palavras destrutivas. Há quem crie atentados no cotidiano. Mas, apesar dos pesares, além de sobreviver devemos superar tudo isso, porque temos uma vida que vale a pena ser vivida.
Em homenagem a estes que se foram, devemos viver os momentos que temos e que foram arrancados dos que morreram. Perpetuamos os que foram ao refletir sobre quantas vezes somos perdulários da vida. Nessa condição, cometemos também um atentado. São caminhões que destroem o presente que temos de viver inteiramente.
Terrorismo de toda ordem: BASTA! Vamos em frente, pois a maior força vence. E a maior força é a da vida.