Fundado em 1989, as aulas visam promover uma reflexão sobre os sentimentos,as sensações e as emoções de nosso cotidiano através das visões das ciências à experiência humana. São temas que tratam das questões da vida com objetivo de alargar o pensar de cada um.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
Seja Continuidade - Como?
sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
Vidas: Temperadas ou Insossas
Gosto muito de entrar em livrarias para olhar guias e livros de fotografias de lugares. Outro dia, folheando um sobre restaurantes, me lembrei de uma mulher que vou chamá-la de Carmita, a qual fui apresentado há muito tempo. Na tentativa de encontrar um tema comum a todos para estabelecer uma afinidade, comecei a dizer naquele encontro, que uma das minhas ilhas de prazer na vida era viajar e sobretudo para novos lugares. Destinações desconhecidas me fazem mergulhar na perda das referências que me traz uma agradável sensação de desbravamento das culturas e dos paladares.
Enquanto falava, Carmita me olhou e com um pedido de licença em seu olhar, disse: “Detesto viajar... Olho as fotos dos lugares e me dou por satisfeita”. Eu a interpelei um pouco surpreso: “Nem para Tiradentes?” Ela, sem o menor tom de agressividade, mas com uma franqueza respeitável, de uma vez que aquela afirmativa iria restringi-la, me respondeu – “Não gosto de viajar, não gosto de jantar fora... Não faço questão de sair do meu mundinho”.
Lembro-me bem que a partir do que ela me disse, comecei a divagar silenciosamente em minhas considerações.
Pensei “Carmita da Caverna”. Pensei esta mulher como sendo uma pessoa que ao invés de conhecer um quadro diante dos olhos, acharia uma foto da tela suficiente, como se bastasse olhar o cardápio de um restaurante sem nada pedir...
Perguntei-me: A sua alma se alimenta de que?
Já pensou o mundo sem a curiosidade para além dos limites visíveis? O que seria de nós?
Estaríamos morrendo das mesmas doenças da idade média e até mesmo as de épocas anteriores. Mesmo a fotografia que a saciava foi inventada por uma alma instigadora.
O mundo evolui devido a emancipação do conhecimento. O nosso mundo interno também.
O crescimento nada mais é do que se aventurar ao novo estágio: o movimento de renúncia de uma condição para ingressar em outra.
Li uma matéria no jornal O Globo, sobre um elefante na Coreia do Sul do Zôo Everland, que consegue expressar cinco palavras em coreano: olá, sente-se, não, deite-se e bom.
Como declara a repórter, é obvio que o elefante não tem noção do que diz, mas o contato intenso com os humanos expandiu sua possibilidade.
O elefante não tem o aparelho fonador. Ele consegue dizer as palavras ao criar um meio para superar esta limitação. Colocou a tromba em sua garganta para que no sopro pudesse recriar o som das palavras...
Se um elefante que rompe seu nicho para se defender da solidão, pois não tinha nenhum companheiro de sua espécie durante anos, estabelece um contato além do que seria o natural e consegue assimilar aspectos que não pertencem a sua natureza, imagina uma pessoa o quanto pode acrescentar em si mesma, ao estabelecer linhas de comunicação e conhecimento com outros mundos.
Atualmente a Organização Mundial da Saúde afirma que nos centros desenvolvidos, uma pessoa de 72 anos tem a mesma perspectiva de saúde que uma de 20.
Nossa longevidade é fato certo no mundo atual. No entanto, viver mais deve ser aliado a viver emocionalmente bem.
De que adianta conquistar uma vida longa sem uma cognição bem desenvolvida?
De que adianta uma pessoa ultrapassar as barreiras cronológicas dos ancestrais e ter uma precária vida mental e emocional?
Hoje se sabe que alguém que assimila mundos novos e que se mantém inserido no contexto evoluído das ideias, desenvolve mais recursos no cérebro, estimula as sinapses e potencializa a sua resiliência, ou seja, fortalece a resistência em muitos espectros.
Portanto, meu susto em relação a Carmita passava longe de um preconceito pelo modo de vida, mas em saber que a permanência num mundo menor é fazer com que o cérebro deixe de encontrar desafios. Deixa com isso de evoluir. É se abrir ao mau porvir, pois o futuro virá, mas a qualidade em vivê-lo depende de cada um.
Outro dia estava perto da minha casa em Copacabana, e uma mulher de uns 25 anos me parou para perguntar: O Senhor poderia me dizer onde fica a Av. Atlântica?" - Confesso que fiquei meio impressionado dela não saber e respondi: Você está a uma quadra da praia. É só descer aquela rua."
Ela visivelmente emocionada me disse “Vim conhecer o mar.”
Sabe que a praia é tão parte da minha vida que nunca imaginei que encontraria uma pessoa adulta com a alegria de ver a orla que me é tão habitual…
Ao contrário de Carmita esta amplia os próprios horizontes e, com certeza, amplia vários sem depender de ninguém…
O psiquismo tem uma tendência natural a inércia, ele é estimulado no encontro com o novo e depois desacelera.
O novo é que estimulou o cérebro do elefante e é evidente que qualquer elemento novo tem o poder de estimular o meu, o seu e o de todos que se aventuram ao descobrimento.
Soube, tempos depois, que aconteceu com Carmita o que temi quando ouvi o modo excludente com o qual se conduzia. Começou a desenvolver uma senilidade, a partir de uma depressão. Não soube temperar… Vida insossa… Alguns diriam de modo leigo: “Ah… Problema inevitável da idade”. Grande erro.
O que faz com que uma pessoa seja considerada velha? A que ficou parada no tempo. Aquela que se exclui gradualmente do mundo. A que não acompanha o fluxo dos acontecimentos.
Aquela que perde a menina ou o menino curioso deixa de ser aventureiro de si mesmo.
Sabe aquele jogo de dados? Que você tira um número e conforme o lado você anda um determinado número de casinhas? Pois é… tem pessoas que andam para trás. Lançam sua sorte ao contrário do que seria favorável a si mesma.
Como disse Freud o importante é criar um mundo sobre o qual você possa e goste de viver. Toda pessoa que se fecha em si mesma, vai se “ensimesmando” e perdendo a habilidade de lidar com a vida e perde a conexão com ela mesmo que esteja em contato.
Se em conexão com um novo mundo até um elefante aprende a falar… Imagine o que você pode aprender em contato com um mundo além da sua realidade…
Enquanto “Carmitas” escolhem viver entrincheiradas nos mundinhos, há os “Máximos” da existência, que atravessam os limites e constroem a vida dos sabores.
Pena… que alguns com o tempo se tornam “Carmitas Ninguém” ao invés de se tornarem os “Máximos”.
A vida que vale a pena ser vivida?
Aquela que pode ser aprendida.
Aquela que é expandida…
Aquela que a faz crescida…
Para você extasiada com sua altura subjetiva poder dizer:
" Ah… Como é belo o mundo visto do alto."
Pense nisto.
Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico
Créditos das Imagens: Patricia Secco (@patriciaseccoarte)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Abastecer e Florescer a Si - Para Um Ano Sem Anorexia Psíquica
Outro dia li uma entrevista com o economista grego, Loukas Tsoukalis, especialista e professor de integração europeia na qual falou sobre a crise nos países da comunidade do euro, onde sinalizou sua ideia sobre a falta de um estadista no mundo, de um líder político consistente e carismático para gerar uma unidade de sensação de segurança.
É fato que o ser humano sempre precisou de um farol que sinalizasse caminhos… Tivemos grandes faróis filosóficos, psicanalíticos, poetas e entre outros e hoje ficamos meio perdidos no que nos norteia de modo a se ter balizas consistentes para ponderarmos.
Ao ler esta declaração sobre a falta de um líder, pensei a respeito da mente que necessita de uma linha de raciocínio para refletir e fazer que possamos ter uma ideia consistente que nos oriente e responda as nossas questões.
Aprendemos uma série de coisas, colecionamos em nós, nomes, filmes, livros, situações, mas será que alguém sabe responder o que de fato é necessário encontrar para se suprir no campo psicológico?
Vejo no Hortifruti, que adoro ir, mulheres, homens com listas ou com apenas os olhos e os carrinhos abertos ao que as mãos seguram das prateleiras. Com certeza sabem sobre vitaminas, clorofilas, sobre o excesso e a falta do açúcar, enfim sabem tantas coisas sobre como misturar um queijo brie com a geleia de damasco, mas será que as pessoas sabem responder sobre o que pegar nas prateleiras do “supermercado mundo” para se abastecer?
Nosso inconsciente é plural e necessita, como o corpo, de elementos diversificados.
Precisamos de dose de mãe, de pai, de irmão, de irmã, de amigos, de criação, de erotismo, de sexualidade, de marido, de mulher, de filhos, de avó, de avô, de casa, de viagem... Precisamos encontrar tantas coisas para abastecer o carrinho existencial...
A felicidade é um presente de gratidão de nosso "Inconsciente Plural" pelo correto abastecimento interior. Por isto que tantos são abastecidos com roupas, viagens, casas, joias, carros e outros adornos e ainda assim sentem uma fraqueza melancólica no viço da alma.
Será que a lista de prioridades está clara na sua consciência?
Sendo o inconsciente plural, a dose de um único item irá satisfazê-lo?
Ter só a maçã para se suprir por completo?
Será também que está cercada de vários itens, mas se sente distante da felicidade? Será neste caso que a dose vivenciada de cada elemento de sua vida está sendo vivida na boa medida?
Ingestão contínua de ginástica e mais nada, ingestão de casamento em bulímicas doses...
A tristeza é a linguagem de nosso inconsciente plural que nos fala de sua anemia.
A tristeza nos deixa fraco porque nosso interior está desabastecido de bons alimentos ou de alimentos em doses erradas.
Se somos constituídos dessa pluralidade, a diversidade em medidas lúcidas e sábias nos fortalece.
A Biodiversidade Existencial é um ato de um bom sabedor dos nutrientes psíquicos necessários.
Como uma excelente receita de Dorival Caymmi: um cadinho de ioô, um cadinho de iaá...
Bota castanha de caju, um bocadinho mais;
Pimenta malagueta, um bocadinho mais…
O economista falou que falta um líder para organizar a crise…
Quem sabe a crise do continente você, esteja presente porque falta ser liderado por uma boa noção de economia psíquica? Oferta, demanda, valor agregado, produção e produtividade. Diante das prateleiras do mundo, saiba abastecer seu carrinho existencial… Olhe os prazos de validade vencidos, olhe os que são desnecessários e os fundamentais.
Um pouco de uma coisa, de outra, depois outra, uma mistura no sábado de tudo e na segunda-feira o que faltou no domingo e assim… Dia a dia com a nova nutrição mais balanceada a crise passa.
A saúde de seu inconsciente plural será a felicidade. E felicidade está naquele instante que você quer que nunca acabe…
Se você parar para pensar…
Descobrirá tantas e outras que poderá construir para si mesma…
Caminhar como nesta foto da Patrícia Secco no Vietnan…
Floresce internamente com consistência que você caminha na primavera do psiquismo… Ah que grande e monumental estação…
Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico
Créditos das Imagens: Patricia Secco (@patriciaseccoarte)
domingo, 6 de novembro de 2022
O Direito de Existir
O Direito de Existir
Quando eu era pequeno havia uma novela que se chamava “O Direito de Nascer” e este nome me veio quando soube outro dia de um caso sobre um homem de quarenta e dois anos que impossibilitado por si mesmo e por medo do preconceito feroz de assumir o seu desejo, sua verdade afetiva e sexual de modo aberto e profundo, mergulhou gradativamente num processo de autodestruição através do álcool que está minando todos os setores da vida dele. Ele aboliu o direito de nascer para a vida que nasceu, lógico tendo como componente a cultura por vezes opressora.
Lamentei muito esta história e fiquei a pensar sobre a dificuldade humana em impor limites, em assumir condições, em dizer não aos excessos de solicitações, do “envergonhamento” para expressar opiniões, e sobretudo, na culpa de arrancar determinadas máscaras.
De fato, desde que nascemos precisamos que nos desejem para que sejamos bem recebidos na vida. Esta condição de dependência do outro nos coloca de imediato na posição de submissão, de sedução, de busca de aprovação e de contínuas provas de acolhimento.
É fundamental que você e todas as pessoas saibam que as experiências de sermos respeitados nas diferenças e nas opiniões trazem para nós o progressivo registro em nossa estrutura, que podemos de certa forma contrariar ou mesmo podemos deixar emergir determinadas singularidades em nossas vidas cotidianas. Como se o mundo nos dissesse através do respeito nos nossos primeiros tempos de existência, que somos amados como sujeitos, singulares.
Essa vivência liberta a pessoa para o direito de uma série de expressões, que vai desde o de escolher um sabor de sorvete até definir uma profissão ou estilo de vida e até o modo de viver afetos.
A experiência do olhar respeitoso às singularidades suscita a liberdade para se expressar e conviver sem constrangimentos.
Somos semelhantes e isto envolve as diferenças, pois se não fosse assim a afirmativa seria : somos perfeitamente iguais.
Uma pessoa que foi isenta dessa individualidade, que foi anulada em determinados direitos, até por uma cultura e moral retrógrada, cresce envergonhada até mesmo por ocupar um espaço no elevador. Convive com uma secreta sensação de inferioridade que pode passar pelos complexos. Constrói-se espelho do mundo que a cerca.
Às vezes a falta de um pai amoroso, ou mesmo a presença excessivamente autoritária e retrógrada esmaga a sensação de direitos e faz expandir apenas a noção de deveres. Torna-se uma pessoa colonizada, que pode responder a esta pressão com uma saída negativa, se tornando procrastinador e encolhido no mundo pessoal.
Há também uma resposta a estes quadros através de uma dependência e submissão como o caso de uma mulher que devido à dificuldade de dizer não, se deixava ser devorada e na impossibilidade de se colocar numa equidistância acabava por minar a convivência com as pessoas que se aproximavam dela.
Muitas pessoas destroem o que desejam por não saberem conviver através da noção dos espaços que cada um deve ter. Já que não sabem expressar o que as incomoda, rompem e se distanciam carregando permanentes dificuldades.
Sabe-se hoje, que algumas pessoas nascem com predisposição à chamada “Preocupação empática excessiva”, onde os valores dos outros ou necessidades são sempre vistas como próprias, como se houvesse um espelho cujo reflexo do outro se confunde com a própria imagem.
Outro dia num encontro casual, quando ia caminhar, a filha de uma conhecida me contou que o namorado não ligava para a aparência e, portanto, nunca se vestia de forma apropriada. Já tinha ido até de sandália a casamento. Não adiantava falar, pois odiava ser criticado.
O que parece isso?
Uma evidente forma de oposição a alguma autoridade extrema vivenciada em sua criação. Pulou da opressão para a liberdade através da rebeldia agressiva. Tornou-se igualmente autoritário. Continua preso, pois quem busca sempre fugir é porque ainda está acorrentado.
Como é importante se compreender e tomar consciência há que está ainda aprisionado através de uma culpa ou constrangimento em ser.
Saiba que para existir e buscar se afirmar, se faz desnecessário abolir todas as regras, códigos ou pedidos.
Incorporamos padrões nos nossos modos de ser. A modificação de hábitos, até os mais arraigados, pode ser realizada, afinal somos neuro plásticos.
O hábito ou o traço de uma personalidade é um comportamento adquirido por alguma razão. No entanto, pode-se tomar consciência do que de negativo se está fazendo consigo mesmo.
Entenda o que se passa na sua cabeça e modifique o que destrói o seu prazer cotidiano que a torna uma pessoa constrangida em ser a própria pele, a própria essência.
Muitas pessoas criam seus filhos como projetos pré determinados do que devem ser quando crescerem…E se não correspondem, uma batalha narcisista é travada…A batalha de transformar o outro numa projeção de si…Isto é amor? Ou poderíamos dizer um amor envenenado pelo obtuso desejo de ser através do outro…
Quantos se submetem a solicitações perversas e a total falta de respeito.
Nietzsche tem uma indagação que sempre recorro ao avaliar algum aspecto da minha vida ou opções: “Você vive hoje uma vida em que gostaria de viver por toda a eternidade?” e complementa em outro texto: “Nossa dor vem da distância entre aquilo que somos e o que idealizamos
Tudo na vida é de fato uma questão de postura diante de si mesmo."
Quando eu tinha treze anos seguia um curso de inglês no Oxford. Uma vez foi passado como exercício a construção de um texto. Escrevi um diálogo comigo mesmo em inglês. Decidi por essa forma por achar que se eu já pensava em outro idioma era porque dominava os vocabulários e os verbos que deveriam ser aprendidos.
Depois da leitura na sala, a professora me deu zero. Eu tive um choque, pois não havia erro gramatical algum. Perguntei o porquê e ela simplesmente me respondeu que ninguém conversava consigo mesmo. Ela abusou da autoridade.
Abuso, sobretudo ignorante, pois estava ali para corrigir a matéria e não tinha o direito de podar a criatividade.
Ao invés de me sentir condenado, falei com os meus pais e pedi para sair. Lógico que tive o total apoio.
Saí daquele curso na hora... Disse não àquela autoridade neurótica.
Penso que a criatividade daquela professora estava destruída e que ela estava impedida de encontrar a si mesma.
Sem direito a pensar, sem direito a existir.
Quantos podam a existência através das inibições, dos complexos e das submissões inseguras.
Aprender a dizer não é uma questão de respeito à vida e ao Direito de Nascer e Renascer.
Converse consigo mesmo em inglês, francês português, só não converse diante daquela minha professora!
Quando pensamos através dos bons discernimentos passamos a abrir grandes possibilidades para existirmos bem.
Grande ironia do destino quando penso na professora e na pessoa que me tornei... Sou um contínuo pensante.
Esta é a minha ideia, nesta semana, para se reinventar a vida.
Ao invés de se destruir pelos medos, deve-se construir sempre a ideia de que temos o “Direito de Nascer”, para que se possa responder a grande questão "Nietzschiana" desta forma:
A vida que estou construindo eu posso vivê-la em toda a eternidade?
Manoel Thomaz Carneiro
Psicanalista/Psicofísico
Créditos das Imagens: Patricia Secco (@patriciaseccoarte) & GettyImages
segunda-feira, 31 de outubro de 2022
Repercussão da Palestra "Conversa no Jardim - com Manoel Thomaz Carneiro" (27 de Outubro de 2022)
domingo, 23 de outubro de 2022
Mas Já?
Mas Já?
23/10/2022
Ao abrir a caixa de correio, vejo o envelope dos Pintores sem Mãos com
os cartões de Natal…
Que susto e logo bem alto meu Narrador interior disse-me
indignado
" Mas já !!!...???
Mais tarde fiquei a contemplar a noite clara de uma
lua nua brilhante…
E pensei, o ano está terminando…Como o tempo é um
conteúdo passante. Abandonei logo meu pensamento quanto a finitude dos
365 dias para abraçar a ideia das horas que ainda teremos até lá…Afinal até
finalizar o ano muitos amanheceres e crepúsculos vivenciaremos…
São espaços para existirmos…Neles cabem
viagens, teatros, jantares, jornais a serem lidos, pode-se perder pelo
menos uns seis quilos, pode-se ter muitos momentos de amor, pode-se tomar ainda
vinhos, mudar radicalmente de vida, se encontrar, se desencontrar
…
Cada um pode ter muitas vidas nossas numa vida só,
até versões de si podem encontrar a pluralidade menos monotemática
e mais dialógica com os desejos e com a natural complexidade do
nosso próprio ser.
Mas, através do modo antecipador, uma segunda-feira
é vivenciada nos pensamentos nas horas da sexta-feira que se anuncia…
Há na vida o tempo objetivo, o lógico que é o
mensurável no relógio e no calendário... Através dele a entrada para o novo ano
nos fala ainda de meses, dias e horas… Mas temos também o tempo subjetivo
que é o vivido, e corresponde a uma experiência individual e existencial. Aí o
Natal pode ser hoje, o Ano Novo amanhã e os ontens podem continuar sem abertura
para acontecer dentro de nós
Quantos estão com a sensação que o tempo está mais
veloz?
A medida dele continua sendo a mesma, os relógios
marcam do mesmo modo há séculos a passagem das horas. As marcações subjetivas
do tempo é que foram alteradas pelo modo atual de se viver.
Uma pessoa que compra meses antes o seu Natal, quando
chegar lá irá falar do fim de ano, e no fim falará do carnaval e nele irá
organizar a Páscoa. E dessa maneira, se condiciona a existir sob um tempo
acelerado que sua mente subjetiva estará sempre amanhã sem capacidade para
apreender o hoje.
Por isso tem-se a sensação que o tempo
acelerou.
O Eu de uma pessoa que não está situada no agora,
se torna impedido de se alimentar das coisas presentes, pois está no imaginário
do porvir. Sem estar situado no hoje, ele avança para gerenciar os pensamentos
orientadores da situação futura.
Fui a um aniversário e estavam quase todos com seus
relógios internos adiantados, no controle do tempo, pois uns iriam viajar,
outros desejavam ir ao cinema, outro queria encontrar um amigo. Quase todos já
estavam onde não estavam.
Nossos pensamentos ficaram educados para este mundo
de milhões de informações e de atividades. Conseguir dar conta de tudo é
instigante, porque gera em nós uma sensação de potência. Em cada agora no mundo
contemporâneo as pessoas se ocupam em gerar vários amanhãs. O psicoterapeuta
americano Jonathan Alpert, sediado em Nova Iorque e que tem um grande
percentual de pacientes acelerados e ansiosos de Wall Street, falou que seu
consultório não apresenta soluções mágicas, mas é um trabalho de implementar
novos comportamentos, novas percepções quanto ao modo de viver para
potencializar a sensação de estar vivo e presente na vida...
Numa entrevista Gisele Bundchen falou numa
que em muitas ocasiões corre tanto para conseguir realizar o que precisa, que
às vezes tem a sensação de não estar totalmente presente onde está. Ela sofria
do que hoje se denomina “Ansiedade da Ausência de Si”. Você já não sentiu isso?
Está tão acelerado que não está no lugar que está, como se a alma estivesse
ainda girando por aí, se debatendo, mesmo estando você já sentado?
Gisele, diz que aprendeu a dar uma pausa, quando
chega nos lugares com essa agitação. Faz um exercício rápido de respiração: de
olhos abertos inspira forte e solta o ar. Falou que esse exercício dava a ela a
sensação de estar viva. Coincidentemente sempre fiz isto.
Faço esta chamada de mim toda vez que me sinto sem
foco no momento: seja no cinema, no teatro, no meio de uma caminhada... como se
chamasse minha alma para o agora.
O tempo é impossível de se multiplicar, sua medida
objetiva é sempre a mesma. A sensação subjetiva dele está ao nosso alcance.
Podemos senti-lo nos escapando, senti-lo mais lento, mais presente, mas de
qualquer modo é bom sempre lembrar: que sempre que cada tempo se coloca diante
de uma pessoa, ele se apresenta com um irônico sorriso de superioridade, pois
sabe que vive sem nós, mas que sem ele... se torna impossível qualquer um
viver.
Em busca do tempo perdido... Saudades dos ontens?
Nada disso autorizo em mim. Quando me vejo muito
mergulhado no fora daqui, no porvir de um futuro, recorro ao uso do CHEGA,
digo-me o BASTA, tão úteis para tantas coisas e desta forma me coloco vigilante
às ciladas de estar ausente aos momentos.
Ultimamente, tenho sentido saudades do Hoje.
Fixado no panetone, preso no amanhã, a procura de
um tempo perdido?
Atenção! Assuma o controle.
Chame a si do mesmo modo que chamamos alguém que
sentimos estar distante...
Ei... Psiu... Oi... Onde Está Você?
Psiu… Já foi?
Então já enterrou o hoje e nem viu os tempos
presentes do verbo existir…
Ah…. Cuidado… Corre tanto nos tempos…que de repente
nem mais tem tempo…
Que cilada tudo isto.
Tão bom o pão nosso de cada dia recheado da nossa
presença…
Uau… Diga adeus para este modo ausente…
Pense Nisto…
Manoel Thomaz
Carneiro
Psicanalista/Psicofísico
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Série "A Narrativa dos Nossos Eus - Guerra de Tróia"
Apresentação da Série "A Narrativa dos Nossos Eus - Guerra de Tróia" (https://youtu.be/S2rhzIZTWi8)
Devido ao grande sucesso das variadas Séries que gravei durante a quarentena, decidi relançá-las.
Escolhi a série “A Narrativa dos Nossos Eus - Guerra de Tróia”, pois ela é constituída de grandes alegorias, onde podemos perceber nossos paradoxos.
A série é dividida em dezesseis episódios, onde cada um possui cerca de 20 minutos de duração, e faz uma análise reflexiva sobre as diferentes fases, desde os motivos que levaram à Guerra de Tróia do seu início ao final.
São cerca de 4 horas de conteúdo, que incluiu uma vasta pesquisa também nas áreas da história e arqueologia.
- Instagram @manoelthomaz
- Whatsapp (Falar com Leonardo): (21) 9 9711-1997
“Somos normais?
Somos divinamente complexos… Melhor será na vida aquele que se sabe, pois também saberá ser com o outro… Afinal, a penúria da falta de convivência é dolorosa, mais do que as dores da convivência. Temos em nós Helena, Tétis, Penélope, Heras, Palas Atena, Afrodites, Hécoba, mas também temos o calcanhar de Aquiles, aliás temos vários, Menelau, Odisseu, Páris, Heitor, Pátroclo, Agamenon…
Através deles passeamos pelos sentimentos que passeiam em nós..
Através deles passeamos também pelos nossos momentos…
É fascinante aprender através desta obra… Uma Saga nos tempos dos Aqueus e Troianos...
Helena! A Mortal mais bela e astuta do mundo?”
Whatsapp (Falar com Leonardo): (21) 9 9711-1997