Assim É,
Porque Assim lhe Parece.
Tenho uma
amiga, que possui um pensamento que atua como parâmetro para reflexão sobre
situações de sua vida. Em alguns cafés reflexivos que tomamos, ela solta:
“Manoel... Assim é, porque assim lhe parece”.
Com toda razão
ela mantém essa premissa sem qualquer risco de abandona-la, pois uma coisa nos
é, porque acreditamos que ela seja assim. Enxergamos de um modo muito pessoal. O
psicólogo americano Michael Shermer esteve no Brasil para lançar o livro
“Cérebro & Crença” e numa entrevista para o Jornal O Globo, falou que o
foco deste trabalho esta na sua ideia que “as crenças vêm primeiro e as razões
que construímos para justifica-las, sejam elas quais forem – vêm depois”. E,
prosseguiu – “Nosso cérebro age como um advogado num julgamento: montando
evidências a favor de seu cliente, que nesse caso são nossas crenças e
ignorando ou recusando todas as provas que não se encaixam ou derrubam essas
crenças... Então há um leque de inclinações que podem ou não ser verdadeiras”.
Na vida
somos dependentes em acreditar em algumas coisas, conforme afirma o jornalista
Alberto Scofield Jr que realizou esta entrevista.
Uma pessoa através da imaginação
é que constrói a sua própria imagem. Se ela tiver uma visão inferiorizada das suas competências
e do seu próprio corpo, terá um sentimento depreciado. A partir do momento em
que se acredita assim, a ideia a respeito de si mesma será essa.
Para o bem ou para o mal, somos
produtos daquilo que acreditamos ser.
Quantas
pessoas sem grandes atributos físicos, mas com crenças positivas, que se
imaginam bem, atuam na vida com sensualidade, humor e segurança. Elas constroem
um corpo subjetivo que sobrepuja o corpo objetivo.
Quando
alguém se deprecia se batizando, por exemplo, de lerdo e de burro, agirá
calcado nessas crenças e seu cérebro irá funcionar sob esses pilares
conceituais.
Homens e
mulheres que não acreditam nas possibilidades e nas grandes ideias de
crescimento, irão sem perceber, construir seus cotidianos coerentes com essas
crenças. Permanecerão nos subtons do que poderiam ser.
No livro Cinquenta
Tons de Cinza, da escritora inglesa E L James, a personagem, estudante de
literatura, Ana (Anastásia Steele) não acredita que possa realmente mobilizar o
jovem, bonito, bem sucedido e misterioso Christian Grey. Ingênua e imatura em
relação a si mesma, aos vinte um anos nunca teve um namorado, possui uma
autoimagem aquém daquelas que “Sr Grey” enxerga.
Grey vê
nela aspectos que Ana ainda não realiza aos seus olhos.
Já na
contramão desta autodepreciação, Christian Grey num jogo que a tradução do
título faz uma inevitável perda no sentido, de uma vez que o seu sobrenome tem
o som da palavra cinza em inglês, enxerga em si os cinquenta tons dele mesmo, ou
seja, cinquenta tons de cinza. Um personagem em que a confiança e o narcisismo
básico são as alavancas para as conquistas financeiras e as investidas sensuais
que ele faz revelar aos olhos de quem lê o romance. Certamente, um homem não de
um tom só.
É certo
que precisamos dos olhos do outro para criar a alteridade – a noção do outro e
a noção de si – mas precisamos de nossos olhos para nos apropriar daquilo que
perfaz o nosso potencial. O olhar de Grey irá despertar Ana, mas apenas aos
poucos quando restaura a sua autoimagem é que ela começa a se transformar na
vida.
Paris tem
um codinome “Cidade Luz” e um grande percentual da humanidade atribui este
título a sua iluminação e como é de fato bem aproveitada neste aspecto, o mito
errôneo se mantém. Muitos visitam-na, revisitam-na e pensam ter conhecido a
razão de tal nome ao se deparar com a elegância feérica da iluminação nos
monumentos, nas edificações, sem falar na cúpula de vidro do Grand Palais.
Curioso saber que este nome vem da florescência das ideias no séc. XVIII, época
também dos enciclopedistas que organizaram os conhecimento sob a forma das
enciclopédias. Paris recebe um olhar por vezes errôneo e perde muito por não
saberem da sua influência no modo de pensar da humanidade. Além da moda e das
etiquetas, Paris trouxe uma revolução no refletir a si mesmo. Ao saber a
respeito disso a cidade se abre mais, se descortina aspectos dela que a torna
mais fascinante. Quanto mais tons a
partir de um matiz, mais nuances de uma mesma coisa salta a nossa percepção.
Como
vemos cada cidade tem uma imagem, que por vezes não corresponde ao que é no
real. Exatamente como pode ocorrer com cada um de nós, pois muitas vezes temos
impressões que não correspondem ao que somos. Uma grande maioria dá uma nota baixa a si e vive com esta discrepância
injusta originada de suas conclusões e ideias inferiorizadas.
Quanto
mais aprendemos a nos descobrir, mais matizes de nós saltam a nossa percepção.
Se soubermos de quais tons compõem nossa maneira de ser, saberemos combina-los
bem e de modo mais fácil, saberemos definir o que é melhor para cada aspecto de
nossos traços.
O
pseudoconhecimento nos leva a enxergar uma coisa, quando na verdade é outra.
Uma coisa se torna para uma pessoa aquilo que ela acredita ser.
Somos aquilo que acreditamos ser.
Quando
alguém vê em nós possibilidades e qualidades, as vezes achamos que é apenas um
olhar gentil, que não condiz com o real.
São
várias as causas desta autodepreciação, desta falta de luz em direção a si
mesmo, mas para mudar é importante falar com seu advogado interno, que defende você
nas boas causas para que não cometa o delito da autodistorção e que ele pela
suas novas crenças positivas, possa implantar a clareza da verdade, começando a
sua defesa pelo título da peça do dramaturgo italiano Pirandello “Assim É (Se
Lhe Parece)”.
Perceba a
liberdade que a luz desta ideia traz.
Rever as
crenças é importante.
Como dizem
nos cafés ponderativos – “A vida é igual tapete, de vez em quando precisa de
uma sacudida.”
Aquele que não se descobre se
desperdiça.
Manoel Thomaz Carneiro