terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os Seus Amores, Você os Conhece?


Fui num sábado levar uns primos de Belo Horizonte para mostrar o Arco do Telles e todo o corredor cultural e gastronômico daquela região. Quando depois de umas caminhadas, passando pelos conjuntos de música que cada canto oferece e fazermos uma inevitável parada pela inusitada lojinha dos verdadeiros chapéus de panamá, estávamos num restaurante na Rua do Rosário e minha prima de uma hora para outra disse “Estou amaaanndo este lugar” e confesso, que amo também a mudança de atmosfera que aquele pedaço do centro do Rio nos oferece no fim de semana...
E, pensei: amamos lugares... pessoas... viagens... e outras tantas coisas, mas afinal o que é de fato o amor?
Poderíamos usar a palavra amor para tudo isto?
Lembrei-me da definição psicanalítica que diz - Amor é uma relação entre você e um Grande Outro, deriva-se de uma identificação com o semelhante não semelhante. É um processo de afinidade constituída de razões bem objetivas e outras tantas subjetivas.
Se eu considerar que me identifico com aquela atmosfera de mesas nas calçadas, inseridas no entorno de um luso-brasileiro, com os sabores feitos por um chefe de cozinha francês e que além dos pães tem um patê inesquecível, eu posso, ela pode e todos podem recorrer a palavra amor, para expressar o quanto de prazer nossa alma experimenta... quando estamos mergulhados num contexto semelhante aos desejos, e ao que então buscamos. 
Penso neste amor, através de uma frase que anotei neste mesmo sábado amoroso, em uma exposição de fotos do acervo do Itaú no Paço Imperial, que após a reforma vale uma visita, um passeio agradável que nos leva a salas onde aconteceram momentos tão significantes da nossa história e tudo pode terminar no café... Aliás, uma boa maneira de preencher esses dias que acontecem na vida da gente, mas voltando, a frase anotada, era assim: “Captar raios de luz para impregnar uma superfície e com isso prolongar até o infinito a permanência volátil do tempo e da luminosidade da vida.”
Esta definição sobre a fotografia me lembrou o amor. Uma foto busca a luz para impregnar o instante e eterniza-lo trazendo a cena o momento ou a pessoa para a imortalidade. E, o que é senão o amor uma busca de Luz para os nossos instantes? 
O amor que é busca que nos põe em busca, é uma forma de captação de luz, para impregnar a nossa superfície volátil da existência e nos fazer mais prolongados no desejo de permanecer em cada tempo das nossas vidas. Tive vontade de que aquele sábado nunca mais acabasse, como outros tantos momentos da minha vida. 
O encontro com o amor expande nossa vontade de viver. E, nos fazer assim é transformar nosso ser em perspectivas.
Somos também buscadores de olhos amantes sobre nós. Olhos amantes de nossas ideias, nossas ofertas, nosso corpo. Assim como os curadores de uma exposição, os chefes de cozinha, os bandolinistas preparam suas oferendas sob várias formas como modos de captação de olhos amantes ao que fazem e, portanto, ao que são.
É de fato uma delícia ser reconhecido e acolhido pelo outro... Por isso, sempre que sinto um prazer com alguma coisa que alguém tenha feito, mesmo que eu esteja na posição de cliente, procuro manifestar o meu prazer e o meu agradecimento para aquele, que naquele momento foi um contribuinte para que a minha vida se tornasse mais agradável, mais iluminada, mais amorosa.
A busca do amor dá sentido ao que somos.
Naquele sábado estava cercado de amores, o que vi, o que almocei, onde e com quem estava. Foi um sábado, posso assim dizer, narcísico, por ser um espelho do que gosto e também uma projeção do que sou e amo fazer.
O psicanalista Nasio fala que o amor é uma espera e a dor a ruptura súbita desta espera...
Posso dizer que estou sempre no amor, pois a esperança é a companhia que não abandono. A convido todos os dias para sair. Onde quer que eu esteja ela nunca é demais. Adapta-se a tudo, é positiva e, portanto uma presença extremamente refinada.
Você já escolheu o seu sábado?
Conhece os seus amores?
Estou aqui com a esperança torcendo para que eles sejam sempre amores de poeta, “Infinitos enquanto durem”.
Se você desejar saber mais sobre o amor, fique atento... na próxima semana tem mais!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Momentos... Acolhas ou Perdas.


Adoro a lua em todas as suas formas. Numa noite a contemplando numa varanda, de um lado me chegava o som de um piano, de outro, uma voz me trazia músicas da bossa nova. Esta atmosfera onírica me levou a pensar o quanto o mundo exterior penetra em nós.
Este tempo de sons e lua me reportou a um conceito da psicanálise, que fala que somos os conteúdos psicológicos pessoais somados a tudo que entra através dos sentidos em nossa essência.
Somos desde que nascemos devoradores dos mundos nos quais transitamos. Numa espécie de eucaristia nos alimentamos do que nos cerca. 
Absorvemos as paisagens, as atmosferas, os toques físicos, ingerimos as ideias, as presenças e também as ausências. 
Recentemente fui jantar num novo restaurante em Búzios, mas faltava atmosfera. Faltava sensualidade no ambiente para que além do prato, o olfato e a visão também encontrassem seus alimentos... Parece desprezível, mas somos estes canais de entrada que dão acesso aos caminhos de nossa alma. A partir desta comunhão com o exterior nos nutrimos para continuarmos na vida.
Nilton Bonder, numa entrevista para a revista “Lola”, afirma que “o fundamento da vida é saber ser participante”.
Como poderíamos refletir este pensamento de Bonder?
Primeiro, pensar em cuidar da percepção do papel que cada coisa, cada pessoa e cada ideia tem em relação ao que somos, ao que seremos, ao que sentimos e também ao que sentiremos. 
Saber ser participante requer desenvolver o reconhecimento das verdadeiras e por vezes sutis fontes exteriores de vida, requer também aprender o papel fundamental do zelo.
Zelo em que?
Zelo nas escolhas das amizades, das ideias. Zelo na atenção ao momento.
Quando saímos para jantar, selecionamos aonde vamos, e lá observamos a mesa, os pratos numa sucessão de cuidados. Tudo para que a noite seja agradável. Tudo para que os momentos permaneçam em nós.
Assim como ornamos nossa casa para que a vida nela seja confortável e agradável, as pessoas devem aprender a ser decoradoras do seu cotidiano. Afinal ele é um espaço a espera... Quem melhor souber preenche-lo melhor saberá viver. 
Para sermos “bons participantes” da vida o que mais devemos perceber?
Perceber a transitoriedade das permanências.
Cuidar destas permanências é reconhecer que tudo na vida sempre cumpre um ciclo. Surge, nos alimenta e acaba. Devemos portanto tentar estar inteiros quando a música e a lua se fizerem presentes. Evitar estarmos em dois lugares ao mesmo tempo, para que possamos deixar a música se calar, para que ela possa permanecer em nossa alma.
Muitos estão no cinema ausentes do momento, outros embarcam apenas metade de si para uma viagem e, ainda, há aqueles que se perdem tanto em seus pensamentos que se tornam incapazes de reter a vida... São perdulários dos momentos. Pena, pois gastam o que não se recupera.
Laços profundos com os momentos é um modo de fertilizar a sensação de estar vivo, de estar vivendo.
Às vezes para mim, algumas pessoas, recorrendo a uma expressão de Drummond, apenas passeiam seu espanto pela natureza. Espanto de que?
De serem uma “vaguidão personificada”.
Depois de um tempo em minha varanda, a lua se foi, mas não sem deixar as boas marcas da sua presença. A minha lua se foi, mas me trouxe na simultaneidade de sua partida a luz de um novo dia.
Nesta luz a clareza da natureza dos ciclos. A clareza da transitoriedade das presenças. A clareza da importância de cuidar de cuidados às presenças em nossas vidas. Pois tudo é uma visita. Somos os anfitriões que devemos saber acolher, usufruir, cuidar e deixar partir.
Um filme acaba, a música silencia, a lua parte obedecendo a sua trajetória, o tempo da varanda se esvai, mas tudo deixa para nós o rastro de sua existência. Como esta crônica, que chega ao seu final esperando que cada palavra encontre ressonância no coração de quem a lê.
A sua vida é como esta varanda, esperando você chegar...
Ao chegar nesta linha, depois de algumas releituras a lua reapareceu para novamente me visitar. Agora, vou recebê-la.

Imagem: “Sonata” de Thomas Mcknight

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Reinventar a Vida - Fase 3

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"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." 
(Oscar Wilde)

Semana que vem iniciam as turmas do novo curso "Reinventar a Vida - Fase 3" ministrado pelo professor Manoel Thomaz Carneiro.

Turma 3ª feira das 14:30 h às 16:30 h
Início: 07 de agosto - Término: 25 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da Tarde das 14:30 h às 16:30 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da noite das 19:30 h às 21:15 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Centro de Eventos do Ed. Leblon Corporate - R. Dias Ferreira, 190 - Leblon
Informações e reservas: (21) 9983-5751 (com Ilana)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sonhos Indolentes e Sonhos Potentes


Tenho prazeres que gosto de viver no cotidiano. Um deles é comprar CD para ouvir no carro. Alguns, acerto na escolha e viajo nas letras... Estou com um do Línox que me leva às vezes torcer por uma ligeira retenção no tráfego, para que eu possa permanecer mais um pouquinho de tempo na faixa nove que começa assim:
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”
Adoro letras que se desdobram, narrando sentimentos e que me levam a pensar.
Destes devaneios, inspiro reflexões sobre a vida, sobre mim e quase sempre retiro alguma atitude para plantar.
Ultimamente tenho refletido sobre aqueles que sonham, mas vivem seus desejos de vida apenas em pensamentos.
O novo porteiro do meu prédio é tudo, menos a sua própria função... É visível para mim, que está na sua vida desabitado de sentido no que faz. Fala de futebol e fica claro que queria ser o Neymar; fala de ator e queria ser um Murilo Benício “Tufão” numa mistura ingênua de realidade e fantasia... Queria ser tudo que não é, mas seus desejos estão aprisionados em seus sonhos. Como muitos, fica a espera de um olheiro que leia seus pensamentos, fica a espera de alguém que descubra suas ambições e como uma criança, fica a espera de um pai que a leve ao seu mundo sonhado. 
Quantas Marias, são Marias ninguém querendo ser alguém, mas sem qualquer atitude na direção da realização dos seus desejos. Outras sonham com a magreza e no real vivem distantes do hábito que as levariam a se aproximarem do corpo sonhado.
Sonhos possíveis que são apenas sonhados se tornam “Sonhos Indolentes”.
Sonhos potentes são os que fazemos funcionar como planos e com isto se tornam vocabulário de nossa alma dizendo onde gostaríamos de estar.
A atleta Carolina Basílio na página Perfil do jornal O Globo, conta que teve que dar uma guinada em sua vida, quando parada em sua moto num sinal de trânsito em Niterói, numa fração de segundos, uma caminhonete avançou e decepou sua perna direita. Esta atleta de várias medalhas paraolímpicas em natação afirmou – “Hoje sou mais vaidosa do que antes do acidente. A vida é assim mesmo, a gente perde umas coisas e ganha outras.” E prossegue – “As pernas me deram muitas alegrias, mas estou tentando deixar isso para trás e conquistar novas alegrias com os braços.”
Carolina ao invés de olhar o que falta, fixou no que permaneceu intacto para projetar seus Sonhos Potentes de nadadora. Não ficou, como muitos, no “querer queria”.
Quantos “querem”, mas pela indolência, preguiça, insegurança e infantilidade permanecem imobilizados no “querer queria”.
Londres 2012 continua nos dando exemplos além de Carolina.
Nosso ginasta Diego Hipólito que passou por cirurgias em 2008, 2009, 2011 e no início deste ano, diz: “Tenho um sonho de ser medalhista olímpico e não vou abrir mão dele enquanto puder buscá-lo.”
As Tochas Olímpicas nestes atletas estão acesas em seus sonhos, iluminando suas decisões e perspectivas de vida.
As circunstâncias, bem como seus inerentes contextos podem, como tão bem afirmou Carolina Basílio, apresentar limitações, mas elas não definem limites na vida.
Se o meu porteiro compreendesse que para ser Neymar não basta apenas sonhar, tem que suar a camisa, tem que se colocar a frente de si mesmo, ele sairia de sua melancólica existência de Sonhador Indolente.
O importante não é buscarmos poder e cargos, mas sermos referência naquilo que fazemos. 
Sonhos indolentes não são sonhos, são pesadelos.
A distância entre você e sua frustração é do tamanho de sua visão limitadora.
Meu porteiro poderia se tornar o melhor porteiro que conhecemos, se transformaria até em conteúdo de sonho alheio.
Os sonhos que não nos prejudicam e os que não tenham o poder de ferir alguém, podem ser considerados planos de vida que orientam nossas direções. São sonhos isentos de maldades, vinganças e amarguras.
Tenho uma certa coleção de sonhos que podem ser vistos materializados na minha realidade, outros seguem me fazendo torcer pela chegada de mais um dia, outro ainda me fala do meu desejo que as pessoas se aproximem mais das realizações. O que faço para que este sonho não se torne um sonho indolente é tentar através destas palavras despertar a vontade de varrer a ideia do impossível. 
Como bem diz outra musica do mesmo CD: “O segredo é nascer para o que se vem.”
Sonhos só ganham chances de se tornarem realidade, quando extraímos de seu conteúdo as margens de nossas ações.
Os atletas olímpicos brasileiros Carolina e Diego, traçam as nossas esperanças nas medalhas e na vida através da busca de realização de seus sonhos.
Sabem que:
Pessimismo não é realismo, é arma exterminadora da vida possível.
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Estrada de Salles e O Caminho de Si




A Estrada de Salles e O Caminho de Si
A palavra – caminho – em seu significado literal é faixa de terreno, mas também pode representar a vida que seguimos; os rumos que definimos para a nossa destinação diante do que nos acontece.
O filme “Na Estrada” de Walter Salles, uma adaptação do livro de Jack Kerouac, é o caminho do jovem escritor Sal Paradise, uma versão da vida do próprio Kerouac, que após a morte de seu pai conhece Dean Mouriaty e passam a compartilhar aventuras e desventuras na estrada durante cinco anos.
Embora Sal seja o narrador, a alma do filme é o seu amigo Dean, um rapaz que vive a vida buscando se atordoar para se afastar de sua angústia.
Quantos criam uma vida extremamente intensa, tentando fugir de si mesmos, como se pudessem se desconectar dos próprios sentimentos.
No mundo interno de Dean o outro é apenas um instrumento para realizar seus desejos, não importando o quanto fere, o quanto desilude sonhos de quem o ama.
Os “Deans” da vida para serem por nós reconhecidos exigem malícia, pois não apresentam semblantes que carregam um punhal invisível capaz de machucar os corações e os sonhos de quem deles se apegam.
Em torno deste personagem malicioso, sedutor está, Marylou a garota fetiche de 16 anos, Carlo o poeta melancólico também apaixonado por Dean, o escritor Sal e Camille sua mulher mãe de seus filhos. Para além desses, orbitam outros personagens em seus mergulhos de desilusão perdas e rupturas, nos sinalizando que a vida que vale a pena ser vivida é aquela em que uma pessoa se apropria com determinação de sua trajetória.
Ao longo dos cinco anos dessa história, vamos percebendo o quanto Dean não se sensibiliza com a dor do outro. Caberá a cada um, observar o que acontece e tomar consciência da necessidade de agir para a preservação de si, realizando a difícil tarefa de se desesperançar e desistir de um amor, de um sonho e de uma amizade.
Pois é, difícil mas muitas vezes inevitável desistência.
Marylou o abandona ao desistir conquista-lo. Decide renunciar aos seus sonhos apaixonantes e transgressores para ingressar na vida sublimada que o princípio da realidade exige. Casa-se com um marinheiro para construir uma família.
Este momento de Marylou é a representação do rito de passagem de um sonho idealizado para a construção madura da vida. Para conseguirmos realizar esta transição, precisamos como ela dar um adeus definitivo sem nos permitir olharmos para trás. Exatamente o oposto da saída da mulher de Ló na destruição de Sodoma... Se olharmos não querendo abandonar nossos antigos caminhos paralisamos petrificados.
Camille, sua mulher, representa a ponderação e o desejo de Dean por uma estrutura e estabilidade que a sua natureza neurótica o impede de manter-se. Ela após intermináveis tentativas de compreensão, o expulsa de casa definitivamente, num momento de resgate profundo de si mesma, quando percebe que todos os recursos de tolerância a levariam para uma vida de solidão acompanhada. Quantas pessoas se expõem a este duro contexto por não conseguirem assumir o controle das próprias vidas.
Dean prossegue em sua coerência de indiferença e egoísmo até com o seu grande parceiro Sal ao abandona-lo deixando-o no México inteiramente só, num momento de absoluta fragilidade física. Sal se vê obrigado a realizar que aquela amizade deveria ser rompida. As lágrimas que naquele instante correm daqueles olhos desamparados, expressam a percepção que às vezes temos que não podemos mais amar aquele amor.
Dean irá abandonar e desamparar a todos que o amam, num impulso de repetição inconsciente do que o seu pai fez, desaparecer.
Aparecer e desaparecer, abandonar e ressurgir são os movimentos que o seu inconsciente o faz viver.
Todos temos um Dean dentro de nós..
Igualmente, temos também um Sal...
A questão é: Qual deles está conduzindo você na estrada?
O filme fala forte sobre o desejo de liberdade, mas fala também sobre o aprendizado que precisamos ter para retirarmos de nossos olhos a inocência em pensarmos “que no fundo, bem no fundo, ele é bom”, para entender que às vezes a bondade de uma pessoa está tão no fundo, coberta por inúmeras camadas de egoísmo que ela não conseguirá surgir na vida. A bondade de Dean está soterrada pelas suas neuroses.
Numa das últimas cenas do filme resume o que parece que Jack Kerouac quis evidenciar como lição maior daquela estrada de cinco anos... ... Saindo de sua casa para um show, Sal reencontra Dean após o México. Dean está desamparado, só e tenta encontrar em Sal corrimão para se segurar diante do seu já deteriorado e trôpego equilíbrio emocional. Sensibilizado, emocionado mas firme em sua maturidade, Sal diz olhando nos olhos do ex-parceiro – “Gostaria de não precisar ir ao show de Jazz, mas preciso ir”.
Existe uma expressão popular “Mandar-se dizer na estrada” que significa ir embora, partir. Sair de um ponto para outro.
Tem momentos na vida que temos que tomar a decisão e o rumo que a razão nos aponta, mesmo que nosso coração esteja reticente e balançado.
São os momentos que precisamos como Sal “Mandar-se dizer na estrada” e partir para Pôr-se a Caminho da Boa Direção.


Assistir Na Estrada de Walter Salles com esses olhos psicanalíticos me fez apreciar muito este belo “on the road”.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Repetição Sonolenta de Si


Outro dia abri os olhos pela manhã e chovia. Resolvi ficar mais um pouco deitado, sem aquela pressa que o céu azul às vezes nos impõe e fiquei a pensar na pessoa que eu iria encontrar naquela semana após muito tempo.
Veio-me, neste devaneio dominical, o desenho da imagem dela no modo de ser, suas cenas, interjeições, suscetibilidades, corte de cabelo e pensei num sobressalto de percepção “Ela é a mesma desde sempre. Carrega numa valise trancada de si todos os seus eternizados aspectos”.
Somos afinal prisioneiros deste si mesmo?
Somos fadados à prisão perpétua de nossos caracteres?
É certo que precisamos do hábito para estabelecer um cotidiano produtivo, necessitamos também de coerência na nossa maneira de ser, no nosso modo de pensar. Para não parecermos seres esquizoides, temos uma linearidade na nossa edição diária de si mesmo.
Mas será que precisamos repetir todos os aspectos para sempre?
Uma vez li a declaração de um escritor que dizia que escrever um romance e construir um personagem exige sair de si mesmo. Exigia dele pensar através da ótica do contexto daquela história e o exercitava ver às vezes uma mesma situação sob uma nova psicologia.
Esteve em Paraty para um debate na FLIP deste ano, a escritora americana Jennifer Egan, que venceu o prêmio Pulitzer 2011 de ficção com “A Visita Cruel do Tempo” e em entrevista declarou: “Eu sinto que em tudo que faço estou sempre tentando evitar ao máximo o meu ponto de vista familiar demais” – e ela prosseguiu – “Para mim, escrever é um tipo de fuga. Não no sentido negativo, mas a diversão em escrever está na possibilidade de experimentar esse outro ponto de vista”. E, concluiu: “É um desejo comum ao ser humano, o de poder se tornar uma pessoa diferente por algum tempo”.
Queremos muito nos libertar de compromissos, pessoas, mas uma grande liberdade a ser desejada e treinada é aquela de decretarmos a nossa liberdade de experimentarmos um novo modo de ser no corpo, nas ideias, nos programas como se estivéssemos delineando uma pessoa que diga um novo texto ao mesmo contexto, diante de sua história.
Rotinas devem ser quebradas para experimentarmos o reacender do paladar... Vamos ao cinema, ao teatro, mas não precisa ser só as sextas feiras. Como alguns afirmam, “Para quebrarmos a rotina jantamos fora todos os sábados”. Original, não? Podemos sempre recorrer a um novo filme, mas podemos também experimentar uma nova estreia de si mesmo.
Mudamos móveis de lugar, mudamos cores nos tecidos, nas paredes, nos carros, mas vivemos por vezes com a ideia de que nosso modo de ser não pode ser modificado. Condenamos com isso a nossa alma a uma prisão perpétua de um repertório rígido e único de pensar e de viver.
Se não posso modificar a pessoa que iria encontrar naquela semana, posso transformar a que sou e que irá encontrá-la. Comecei logo pensando como um escritor de mim mesmo diante de um novo capítulo da minha história:
– Na manhã que acordei, vi que o sol que me faz sempre levantar e correr, naquele domingo estava oculto pelas nuvens e resolvi, como o céu, pensar o meu dia de modo diferente, para não fazer a repetição sonolenta de mim mesmo. 
Mudar é libertar a nossa alma da prisão perpétua de um si sem transformação.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Coisa Mais Bela: Um Aperto de Mão


O filme “La Prima Cosa Bella” de Paolo Virzi, que concorreu ao Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro, fala sobre Bruno, um professor desinteressado, sem grandes vínculos as pessoas, que vive em Roma quase desejando ser um desaparecido na vida e desaparecer de sua família.
Bruno era um homem de ressentimentos, sofrimentos silenciosos, que o torturavam e o desvitalizavam. Sua mãe, sua irmã, cunhado e dois sobrinhos moravam em Livorno, sua cidade natal, de sua infância e adolescência... Para muitos, como para ele, se distanciar geograficamente parece a solução. No entanto para se manter na fuga, precisa-se conservar a dor que a motiva.
A distância não nos protege dos fantasmas que não exorcizamos, pois eles permanecem em nós renovando as lembranças e vampirizando a nossa vitalidade para viver. A conservação dos grandes ressentimentos cria a melancolia e a anorexia afetiva.
Qualquer ser humano se alimenta dos afetos dados pelas pessoas, de suas palavras, olhares e gestos. Precisamos deles para alimentar o nosso mundo psíquico.
Um grande ressentimento, uma grande mágoa fecha as aberturas para todos os afetos. Uma pessoa ressentida se torna defendida, carente e com o tempo amarga, agressiva e incapaz de criar vínculos profundos e duradouros.
Bruno acaba se vendo obrigado, por sua mãe estar na fase terminal de um câncer, a reencontrá-la. Reticente, enrijecido na alma foi resgatando pouco a pouco o menino que havia dentro dele e com os olhos de um adulto refaz o percurso do destino passado.
Descobre em sua mãe, uma mulher corajosa e que por amor aos filhos e para criá-los se submeteu a situações delicadas e controversas moralmente. Qualquer pessoa cresce, quando começa a lançar um olhar de compreensão aos limites do outro. Qualquer pessoa se humaniza, quando percebe que na vida as pessoas não acontecem para nós como precisamos: elas acontecem como podem e assim também seremos em relação às outras.
As pessoas não são desenhos que vão se encaixar totalmente em nossos vazios, nos fazendo sentir plenos e absolutos. A renúncia a ideia de plenitude absoluta é um grande salto a capacidade de viver e sobretudo uma aproximação a felicidade.
A desconstrução de determinadas premissas infantis e utopias do absoluto no amor, nos liberta e nos aproxima da satisfação, da serenidade, da lucidez e do perdão.
Como Bruno o fez, pouco a pouco, ao lançarmos um olhar generoso e aberto a compreensão, passamos a conseguir nos alimentar dos gestos imperfeitos, mas habitados de amor incondicional por nós.
Qualquer alimento deve ser lavado e retirado dele as partes comprometidas. Se nos alimentamos também psiquicamente das pessoas, devemos purificar através das nossas compreensões os gestos poluídos.
Há sempre um amor a se resgatar em nossa vida.
Perdoar o destino para se libertar é soltar das duas mãos a indignação datada, para ter mãos livres para cumprimentar o obrar de um futuro de reinvenção da vida. É dar uma destinação mais inteligente ao destino por vezes tão indiferente a nós.
Nesta semana tivemos a cena de “Um Aperto de Mão Para a História”. Em Belfast a rainha Elizabeth aceitou o aperto de mão oferecido pelo ex-comandante do Exército Republicano Irlandês (IRA) e hoje vice-premier da Irlanda do Norte, que não curvou a cabeça, assim como ela não respondeu aos votos que ele desejou. No entanto, tais ressalvas não minimizam e enfraquecem a importância do ato. Ela de verde, símbolo da esperança, soltou como ele a mão ofensiva para abrirem a mão para uma paz depois de 30 anos de tantas mortes.
Dizem, que o céu e o inferno são aqui. Mas se pudermos contribuir para o aumento da extensão da paz, neste “aqui” interior estaremos cultivando “La Prima Cosa Bela”.


terça-feira, 26 de junho de 2012

Vik Muniz e sua Poesia da Reciclagem

A foto do resultado do Projeto Humanidade, do artista Vik Muniz, me deu um grande impacto. Uma imagem de força, beleza e originalidade. Abraça todo o espírito da Rio+20. Reunir a degradação e dar uma nova forma para deixar o planeta bonito e sadio, como a "instalação" feita com a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar e o entorno destes pontos.
Foram utlizados 1,3 toneladas de lixo constituídos de garrafas pet, latas, papéis, sacos plásticos e até chapas de raio-x. Tudo transformado em arte, e em mensagem de vida. Pega-se restos, sem destinação nobre, elementos sem utilidade aparente, itens desprezados, reúne-se criativamente e recupera-se.
Abandonadas, essas mesmas coisas se tornariam poluentes e de decomposição extremamente lenta.
Vik Muniz, artisticamente, falou de maneira poética sobre o que podemos fazer na vida:
Pegar uma coisa e transformá-la em outra. Conceber uma saída ao que parece sem saída.
Realizou a Metáfora da Sublimação.
Sublimação o que é?
Colocar a energia da sua dor, de seus sentimentos opressores e transformá-los em algo produtivo e criativo.
Quando um compositor imagina em sua mente e "alma" a sua próxima obra; quando um estilista "alma" uma roupa; quando um decorador "alma" um projeto; quando uma anfitriã "alma" a mesa para o jantar; quando um cronista "alma" a sua crônica, quando um cirurgião “alma” a cirurgia, todos estão usando a fértil criação aliada a conhecimentos e a energia dos próprios sentimentos. Ou seja, colocam as energias dos sentimentos ruins e as inserem em uso transformador. Reciclam.
Quando estamos tomados por sentimentos difíceis, devemos tentar utlizar o afeto e a sua respectiva energia quantitativa em algo a fazer.
Sentimentos degradados, poluidores da alma se transformam em ações, projetos e tornam a nossa vida mais viável apesar dos pesares.
Sublimação pode ser a mudança de um estado psíquico para outro. Pode ser visto como uma ecologia emocional.
O psicanalista Caio Carrido assim reflete "...Mas me pergunto se o verdadeiro sentido que podemos dar à vida é o de que somos todos "artistas" de alguma forma".
A criação de uma vida, a recriação cotidiana dela nos leva ao compartilhado, ao outro, ao mundo. Ir para o mundo criando é renascer. Viemos ao mundo porque fomos criados, e nos inserimos nele mais fundo em cada recriação.
A vida é gerada na criação e mantida na recriação dela.
Como o Projeto, pegue os resíduos dos sentimentos que se permanecerem estragam nossa alma com peso e sofrimento e conceba uma forma reciclada a sua vida.
Na Tela de Vik Muniz tudo o que era lixo, se compos em arte e se transformou em luz, forma e cor, ao invés de dor.

Imagem: Obra do artista Vik Muniz feita com material reciclado na Rio+20

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Humanidade da Sua Resistência

Humanidade 2012 - estrutura monumental montada no Forte de Copacabana. 
Crédito: Divulgação


A fila para entrar na exposição concebida magnificamente por Bia Lessa no Forte Copacabana, batizada de Humanidade 2012, continua se renovando. A espera é de em média duas horas.
Para tentarem acolher esta enorme procura, aumentaram o horário, fixando o fechamento às 22:00h com a última entrada às 21:00h.
Não há um modo de acelerar a entrada na exposição, pois a estrutura montada tem um limite de resistência determinado a cinco mil pessoas.
A lucidez dos projetistas está em determinar e fazerem respeitar esse contingente máximo. Mesmo diante de uma eventual pressão para acolherem um pouco mais, o limite deve ser seguido.
A consciência do grau de suportabilidade mantem com rigor o fluxo possível para a preservação de tudo.
Essa estrutura e todo o seu cálculo de suportabilidade me fazem pensar na nossa estrutura psíquica, que é também concebida como um projeto. E, como tal precisa de uma determinada engenharia e previsões de suportabilidade e manutenções.
Nossa estrutura nos fornece a capacidade análoga a da exposição, de acolhermos sob nossa responsabilidade direta sem partilhas um certo número de pessoas e os respectivos pesos inerentes a responsabilidade que temos em relação a cada uma delas.
No nosso imenso pavilhão psíquico, vamos colocando tantas coisas e pessoas: trabalho, telefonemas, marido, mulher, filhos, sogra, sogro, mãe, pai, irmão, menos horas de sono e mais horas de atividade. Parece que quanto mais eficientes somos, sucesso garantido e a fila para acolhermos aumenta. Até quanto? Até quando?
Portanto já é fácil compreender que quando uma pessoa se sente desabando, está ultrapassando o limite de sua resistência.
De onde surge essa resistência?.
O famoso Ego é o fornecedor da resistência psicológica e é também o sinalizador da chegada aos limites.
Por isso é muito bom aprender a ler as mensagens que ele envia a nós.
Ter este saber bem sabido, é se capacitar da organização de si mesmo diante das sucessivas demandas de responsabilidade que a vida nos apresenta.
Em uma entrevista para o Caderno Ela de junho, a Chefe de Gastronomia Flávia Quaresma, narra que percebeu que havia algo errado depois de uma crise de labirintite, ainda no Carême, e de ter trocado o menu de uma festa. Juntou, o diagnóstico médico de estresse e colesterol altíssimo à percepção de que estava vivendo apenas para o trabalho. Decidiu mudar.
Freud afirmou que a tensão interna é sentida pelo Ego como desprazer.
A partir deste dito freudiano, podemos começar a identificar a nossa chegada ao limite de suportabilidade. Quando começamos a acordar sentindo um desprazer que nos acompanha durante o dia e se renova em outros. Atenção: Sinal Amarelo. Estamos acolhendo mais de "cinco mil" pessoas e temos que nos organizar com coragem para estabelecer prioridades e esperas.
Pense. Se os organizadores da exposição no Forte Copacabana, sentissem culpa e por causa dela abrissem o espaço para todos de uma só vez, o que aconteceria?
Teríamos uma catástrofe.
Pois é... Preciso dizer algo mais?
Mas vamos mais um pouco em nossa compreensão.
Uma pessoa desaba pelo desânimo que o Ego começa a fornecer. Se não o escuta neste primeiro sinal, ele manda outro, a irritabilidade. Não tem gente que parece “Pessoa Granada”: você encosta e ela explode? Hummmm... Já está com a estrutura comprometida... o desabamento e o Sinal Vermelho virão, em breve...
Vontade de nada fazer, tédio, irritabilidade, ressentimentos adquiridos por excesso de suscetibilidade, mudanças de humor bruscas, falta de foco. Atenção. A Estrutura Ruiu.
Estabeleça espaço só para você.
Observe, todo estabelecimento fecha um dia para receber os cuidadores. Naquele dia, não há espaço para acolhimento, é só para manutenção e cuidados. Um Tempo para você se entregar à mão dos manutenciadores e nunca precisar desabar para se reconstruir.
Flávia Quaresma tatuou no braço esquerdo a expressão latina "Memento Vivere", algo como "Lembre-se de Viver".
Ponha na sua geladeira, na sua agenda, na sua culpa e em seu coração:
Projeto Humanidade 2012 - Lembre-se de Viver

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Projeto Humanidade em Si


Golfinhos na Baía de Guanabara 
óleo sobre tela de Henrique Telles

Olhando a estrutura montada no Forte Copacabana, onde é palco para a exposição Humanidade 2012, pensei que aquela impressionante instalação equivalente a um prédio de seis andares, foi inventada, antes de tudo, na mente de alguém.
Sem essa criação não haveria esta beleza a ser vista. Como descreveu Zuenir Ventura em sua crônica no O Globo, "...atravessando umas quinze salas, realiza-se uma deslumbrante viagem ao centro da aventura humana na sua relação com a natureza..."
Quando fui correr no domingo, a fila de entrada chegava quase ao Arpoador.
A exposição também pode ser vista como um paralelo a nossa Humanidade no Mundo Mental. Subindo a primeira rampa chega-se ao Mundo em Que Vivemos. Ali podemos fazer equivalências reflexivas em relação a nossa consciência, pois é a partir dela que entramos no Mundo Que Somos. Continuando a visita, chegamos a segunda parada entitulada Mundo Dividido. E ali podemos pensar que de um lado está o que somos e do outro, tudo que poderíamos ser. Mostradores digitais registram em tempo real a acumulação de bens no mundo. Pois é aí que reside o X da questão. Alguns querem viver toda uma existência apenas conquistando uns bens internos básicos e com isto conseguir conceber um projeto de vida com conforto, segurança, prazer e felicidade.
Não dá!
Por que?
Porque para evoluir sem poluir precisamos colocar bons recursos no aparelho psicológico. A nossa Máquina Produtora de Ideias, nossa mente, tem que estar munida de capacidade, de conhecimentos para produzir pensamentos e percepções para uma vida positivamente viável e confortável.
Ambientes internos poluídos com agentes de pessimismo, culpas inúteis, complexos e ressentimentos datados, fazem nossa Baía Mental Interna ficar inabitável para as vidas que nos alimentam na nossa existência. Pois estar vivo é uma coisa, saber existir bem nesta vida é outra coisa.
Na Baía de Guanabara, há dez anos era possível pescar 18 mil toneladas de peixe e agora só é possível 7 mil toneladas.
A cada segundo, 14 mil litros de esgoto são despejados sem tratamento nesta Baía. Pois é... e tem pessoas que só poluem a Baia Mental despejando lixos em si mesmos.
Nos anos 80, cerca de 500 golfinhos viviam na Baía. Hoje não passam de 40.
São 460 golfinhos que não suportaram mais viver nestas águas...
Tem gente que acha que nada disso em relação ao planeta é de fato significativo. Igualmente, tem gente que continua poluindo a si mesma sem perceber que as toninhas que vivem em nossas águas internas capazes de promover em nós movimentos de alegria e saltos de superação vão, pela poluição de nossos sentimentos, desaparecendo do planeta interno chamado Psiquismo...
É hora de compreendermos que o refinamento, a reciclagem dos bons sentimentos e o tratamento dos sentimentos e das ideias poluentes são acordos de amor próprio e respeito a própria natureza.
Promova a despoluição em si.
Limpe a sua vida.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Quem já não sofreu uma grande decepção?



Quem já não sofreu uma grande decepção?
É difícil viver a decepção em relação a uma pessoa.
Somos alimentados pelos sonhos da plenitude, das histórias de sapos que se transformam em príncipes, de sapatos que nos levam a Cinderela. 
Quem gosta de viver a história do fim para o começo: da Cinderela que só permanece o sapato, e o príncipe que contém o sapo?
Apreender a inversão do conto nos torna mais capazes de viver a vida real com muito menos sofrimento.
Esperamos que as pessoas aconteçam na nossa vida com a precisão de nossas necessidades.
Da diferença entre o enorme grau de nossas expectativas e a vida real, surgem nossas frustrações e raivas.
Raivas por vezes alimentadas como um sinal de indignação.
Nina, na novela Avenida Brasil, quer a cabeça de Carminha, Salomé na ópera de Strauss quer a cabeça do profeta João Batista por ele ter negado beijá-la e Elize desejou a cabeça de seu marido Marcos no caso Yoki.
O que explica as vinganças brutais?
O que explica os ressentimentos crônicos?
Quando alguém fica remoendo um trauma afetivo, se não elaborar, vira obsessão. Se torna o que em psicanálise chamamos de Catatimia quando surge o plano vingança.
Vingança não é defesa.
É psicose. 
Pois é.
Todas as três queriam a cabeça, mas acabam perdendo a própria.
Portanto... a melhor vingança vem pela construção do enfraquecimento do outro em si mesmo. Como?
Cresça, cresça muito. 
Pois crescendo se abre espaço dentro de nós e a frustração e a raiva se tornam menores, pela proporção de nosso novo tamanho. 
Espaços maiores, menos possibilidade dos acontecimentos ficarem entulhados.
O que antes não cabia na sua existência sem sufocamento, agora com o seu crescimento caberá na sua essência com menos sofrimento.


Imagem: GettyImages

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ser Forte




Tire todas as resistências, o que restará senão uma fusão, talvez um corpo morto.
Resistir é um processo existencial e essencial a vida.
O nosso Eu usa a resistência como uma defesa quando algo está em conflito, quando mesmo alguma coisa que nos ameaça acontece...
Ele consegue criar um equilíbrio pela força oposta que dispõe ao que é introjetado.
Se você tem algo na mão e solta, o que acontecerá?
A força da gravidade vai atrair o objeto e levá-lo ao chão.
Não é assim conosco? Somos derrubados quando não temos resistência para se opor a um empurrão.
Somos também derrubados quando o nosso Eu não está munido de força para o enfrentamento.
Se sua estrutura está fraca você cai por tudo... por uma palavra... por um olhar transversal... por uma mão boba... Fracos até sopro de pensamento maldoso nos derruba.
Para você levantar um peso de ginástica o que precisa fazer?
Pois é, faça igual. Não importa o tamanho da sua estrutura, nem sua genética pois exercitando se fortalece até os magrinhos. Depende apenas de uma decisão.
Exercite os seus pensamentos. Exercite suas ideias, exercite sua fé intelectual. Com certeza, após um tempo bem alimentados de bons conhecimentos e exercitados quanto aos enfrentamentos o que parecia impossível vai caber na palma da sua resistência.
Ser forte é também uma questão de desejo.

Quando algo acontece
E em você aconteceu.
É porque o que acontece
Atingiu o seu Eu.
Se não mais o Eu
Se sente atingido,
O que acontece,
Não mais aconteceu...

Imagem: GettyImages

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sejamos Vida!

Quem um dia não se sentiu fraco e ansioso diante de uma decisão na vida?
Quem também não se sentiu igualmente ansioso diante de algo que precisava falar?
Todos nós temos um lado inseguro que nos leva a se ver pequeno para as caminhadas.
Como na obra de Cervantes, O Homem De La Mancha, somos um Sancho Pança, bom, meio atrapalhado e sem muita estrutura para as iniciativas. Através dos olhos fracos desse nosso lado, a visão da vida é meio assustadora. Esses olhos frágeis nos paralisam.
Sancho Pança, para trilhar caminhos desejantes, precisou ter a frente a maturidade e a audácia de Dom Quixote. Aliás, o fidalgo que se transforma no herói de La Mancha só se transformou em cavaleiro e defensor dos fracos aos quarenta anos. Nesta idade colocou sua armadura e foi realizar Sonhos que antes pareciam impossíveis.
Podemos ler esta obra como uma jornada de construção da capacidade de enfrentamento, que começa a se tornar mais visível aos quarenta anos. Não é mesmo assim a vida?
Parece que chega um momento em que a construção de um herói interior se faz imprescindível.
Como na mitologia grega, Aquiles faz sua jornada apesar e com seu calcanhar e Dom Quixote carrega atrás de si para onde for o nosso Sancho... Todos fazem sua jornada como nós devemos construir um modo de seguir, aonde nenhum avião, trem ou navio podem levar, pois não se trata de um caminho geográfico mas psicológico.
Como em O Mágico de Oz, podemos sair de uma Kansas pálida e sonolenta para Além do Arco Íris.
Sejamos Dorothy, Aquiles, Dom Quixote. Sejamos o herói certo para cada história de nossa vida.
Sejamos Vida!
Imagem: Don Quixote - de Pablo Picasso

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Reflexão

Todos nós guardamos a nossa infância e dela em nossos dias de adulto conservamos o medo... Que nos envolve... nos sinaliza... Esperar que acabe é renunciar. Guardamos nossa meninice medrosa... mas para contrabalançar temos que colocar ao lado a meninice audaciosa.
Como tão bem disse Brecht, "Tenha medo sim, mas mergulhe assim mesmo que no fundo a lição te espera."

Imagem: GettyImages

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Se escolha...

Por mais que façamos teremos sempre que nos escolher. Se não nascemos por escolha, temos que nos escolher como ser nascido e, dentro desta perspectiva, escolher realizar esse ser que temos que assumir, dando um sentido pessoal a vida. Se não escolhi nascer sou livre para escolher renascer quantas vezes desejar. Só escapamos da prisão do destino se escolhemos a liberdade da destinação que nos damos. Quem sabe que Ronaldinho, o recem ex do Flamengo, não está desistindo de renascer como jogador... Para ser temos que todo dia renascer para os nossos propósitos.


Imagem: "Garota diante do espelho" de Pablo Picasso - 1932

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pensamento...



"O controle em si mesmo dos aspectos indesejáveis potencializa a nossa segurança íntima."

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Reflexão



Estamos uns com os outros nesta vida para distribuir confiança e coragem para seguirmos com menos descaminhos. Assim a vida se faz mais possível.
A desagregação desintegra fora e dentro de nós. Quando a força desintegradora se faz dominante os elos da homeostase são destruídos. O que é a doença invencível senão o retrato do domínio da própria força desintegradora? Coesão é a formação, é vida.
Cada um oferecendo a quem ama uma parcela de confiança e outra de coragem para que possamos ser sempre confiantes e corajosos.
Um beijo através da reflexão do tema da aula desta semana.
Manoel Thomaz

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Atenção: Feriado



Caros alunos,

Devido ao feriado de 1º de maio, não haverá aula também no dia 02, quarta-feira.
Retornaremos nos dias 08 e 09 de maio.
Agradecemos a atenção e desejamos à todos um ótimo feriado.


Grupo de Estudos Pensar
do Prof. Manoel Thomaz Carneiro

domingo, 15 de abril de 2012

Reinventar

Lata de sopa Campbell's, 1968, acrílico e liquitex, 91, 5 X 61 cm, Coleção Ludwig

Como bem disse Goldin: "Os grandes artistas fazem arte com o que têm ao seu alcance."
Andy Warhol fez com uma latinha de sopa uma grande obra. Por que não podemos fazer com um armário vazio de latinhas que contenha apenas alguns temperos, uma outra história semelhante a de Warhol? A genialidade do artista não está na variedade de opções que ele encontra no mundo real mas, nas oferecidas pelo seu mundo criativo.
Grandes vidas são feitas, as vezes, com pequenas latinhas.
Manoel Thomaz

segunda-feira, 5 de março de 2012

Iniciando esta semana...

Vamos começar esta semana o curso "Ventos Favoráveis - Reinvenção da Vida".
A história da humanidade é essa brincadeira de dizer não à realidade não desejada. Como bem diz o psicanalista Magno: "Quando alguém diz, quero atravessar a parede: inventa-se a porta."
O filme "O Artista", ganhador de tantos prêmios neste ano, aborda esta capacidade que temos, como artistas da vida, de reinventarmos um novo modo de continuarmos escrevendo uma história.
Aprender é uma excelente porta inventada contra a incompreensão.