terça-feira, 16 de outubro de 2012

Reinventar-se para Viver




Tenho uma amiga em Paris que ficou viúva aos 42 anos e ao seu lado estão seus pequenos enteados: um menino de 13 e uma menina de 9 anos. Ambos abandonados por uma mãe oriental, que foi para Hong Kong e nunca mais quis saber dos filhos.
Nestas crianças dois lutos, duas formas de ausência. Em minha amiga um luto e a necessidade imperativa como eles, de equilíbrio e continuidade.
Se pensarmos bem, a vida realmente não pede licença para trazer os acontecimentos.
Como no filme argentino “O Conto Chinês”, baseado num incidente real, de modo súbito uma vaca pode cair do céu sobre um belo momento de felicidade...
Seria bem elegante se o destino antes de nos aportar algo, perguntasse – “Olha... Dentro de alguns dias algo acontecerá... Você está pronto? Quer mais um tempinho para se preparar?” É lógico que não daria certo. Ficaríamos paralisados pela antecipação.
Na edição de domingo do O Globo, saiu uma entrevista com o cardiologista Cláudio Domênico com o título “O Segredo da Melhor Qualidade de Vida é Saber Planejar e Romper Barreiras” nesta matéria ele afirma que “O nosso corpo tem limitações mas nosso cérebro e nossa vontade não.” 
Apesar da indiferença da vida exterior em relação à dor que ela pode nos causar, a nossa vida psíquica como uma forma de compensação, nos disponibiliza grandes dispositivos de enfrentamentos. 
Como afirmou Freud, o sofrimento tem um aspecto quantitativo e é através dos pilares de sustentação que o nosso ego nos oferece, é que se pode fazer uma resistência psicológica aos momentos mais difíceis ou mesmo as realidades mais duras. 
Ao longo da vida, uma pessoa se perfaz, através das experiências e das pessoas que elege para amar, e cada aspecto vai se inscrever nos espelhos mentais internos, de modo a fazer com que a visão da vida se realize nos pensamentos, através desses traços e dessas presenças internalizadas.
Se perdemos alguém, como os meninos que perderam a mãe – por abandono e o pai – por morte, no começo é difícil se pensar com capacidade para a continuidade.
O que fazer?
Deve-se como a expressão do Domênico – Romper Barreiras, utilizando a nossa ilimitada vontade de prosseguir de algum bom modo.
As possibilidades não se mensuram pela facilidade sentida ao se fazer algo. Na mudança, a possibilidade depende da Disponibilidade Mental, alavancada pela decisão e pela confiança na afirmativa que não existe limites em si mesmo para as boas adaptações.
Se alguém deseja parar de fumar? Terá que construir o não fumante, em paralelo ao fumante internalizado. Abstinências emocionais, são como lutos e podem ser compreendidas como resistências da imagem fumante no espelho mental, desejante em permanecer. Um verdadeiro duelo de dois seres internos. O esforço é dirigido a vencer um fantasma fumante, que quer pegar as mãos para voltar a existir como se fosse uma força possessora.
Quantos fantasmas internos temos que vencer, quantas partes de nós que não são úteis ou positivas que devemos controlar?
Para uma mulher que se vê divorciada, o seu perfil de casada deverá deixar de existir, como um copo de bebida habitual que deve ser vencido... Para um homem que se encontra viúvo, a sua identidade de casado deverá igualmente deixar de existir para que possa se reconstruir. 
Clarice Lispector tem um poema que diz –
“Sou isso hoje, amanhã já me 
reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede,
um pouco mais de mim...”
Uma das grandes ideias que encontramos no pensamento lacaniano é sobre a possibilidade que uma pessoa tem de sair do embaraço. Fazer o impensável entrar no pensamento, fazer o que parece impossível ganhar forma em si mesmo. Transformar é fazer o irrepresentável entrar no presente, fazer o que parece abstração virar construção.
As ideias do possível desembaraçam as nossas amarras, quando transformamos a nossa vontade de vencer e recomeçar em materialidade.
Minha amiga tinha síndrome do pânico, mas percebeu que poderia vencer a si mesma. Precisava assumir o comando da sua própria vida.
O menino assumiu um lugar de pai, se tornando mais responsável sem perder a sua adolescência. A menina de 9 anos, que todos se preocuparam muito, colocou sua sensibilidade na música e decidiu estudar piano. Assim... os três viram, como no filme, a vaca cair do céu e matar quem amavam, mas não se deixaram esmagar.
Saíram do embaraço.
Reinventam-se para viver...

Manoel Thomaz Carneiro



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Em Cada Amizade, Uma Parte de Você?


Em Cada Amizade, Uma Parte de Você?

Outro dia uma amiga que mora fora do Brasil, me contava a transformação que estava passando em si mesma com a vivencia da fasciaterapia, que consiste basicamente em toques com movimentos leves em seu corpo. Dizia que através desses tatos, feitos sem muita pressão, começou a ampliar nela a sensação de estar viva. Na medida em que narrava, eu escutava hipnotizado, curioso para saber mais e mais dessa sensação de renascimento. 
E, pensei o quanto cada amigo que temos revela um lado de nós, pois com ela sempre vivencio a partilha na minha curiosidade sobre as experiências terapêuticas menos ortodoxas.
Somos realmente plurais em nosso modo de ser. Temos vários aspectos e em cada um, uma versão de nós. 
Uma das formas que uma pessoa tem para descobrir a si mesmo, é através da observação de qual identificação possui com cada amigo. Cada um atua como uma “Madeleine Proustiana” que, ao ser experimentada, o paladar daquele momento, irá remeter a um aspecto da pessoa. 
As várias versões de mim eu as encontro numa amiga que me suscita a minha vaidade quando a vejo tão cuidada, naquele amigo que no convívio estimula minha ambição de trabalhar bem e muito, há ainda aquele em que o encontro desperta o meu pensador, aquela que me leva ao hedonismo do paladar na vontade de experimentar vários “pinot noir” e brindar a vida, aqueles que são bons na viagem, outra excelente protetora e que me suscita o meu lado criança, outro mobiliza a minha aptidão para proteger. 
Quem sou? A soma destas partes.
Quem você é? A soma das suas partes, de cada coisa que você vive com alguém, de cada coisa que você realiza.
Não existe um amigo universal em que com ele você consiga falar sobre tudo que gosta e fazer igualmente tudo que deseja. 
Você conhece alguém que contenha os interesses dos quais você se interessa, como se fosse uma peça do seu quebra cabeça, que se encaixa direitinho em todas as suas formas de ser? 
Difícil encontrar esta alma absolutamente gêmea. 
O escritor francês Montaigne, do séc. XVI, dedicou um de seus ensaios sobre a amizade. Para ele, amizade se nutre das trocas e da capacidade de discutir ideias. O entrosamento ocorre como se fosse uma mistura de almas, que em alguns aspectos se confunde com o outro. Um dos seus ensaios, foi dedicado a La Boétie, um amigo que morreu jovem e sobre esta relação com o amigo, assim disse - “Na amizade a que me refiro as almas entrosam-se... Se insistirem para que eu diga por que o amava, sinto que não o saberia expressar senão respondendo porque era ele, porque era eu.”
Assim podemos também perguntar - Por que esta pessoa e não outra qualquer para ser uma amiga?
Porque era ela, porque era eu.
O amigo apresenta afinidade em algo e com ele podemos viver aquele aspecto de nós com cumplicidade e prazer. Porque é nele que me vejo através da identificação. A soma dos amigos nos reúne no sentido psicológico. Cada fragmento de nós, em um. 
Li num artigo os resultados de uma pesquisa liderada pelo neurocientista, John Cacioppo, em que foi usada imagem do cérebro para mostrar que os mecanismos neurais das pessoas solitárias em relação às sociáveis eram diferentes. Colocadas numa máquina de ressonância magnética, as pessoas viam uma série de imagens. Quando olhavam cenas agradáveis, a área do cérebro que produz o prazer, mostrou uma resposta mais intensa nas pessoas mais sociáveis. Já as que eram mais solitárias e mantinham poucos contatos, eram muito mais suscetíveis diante das imagens mais dramáticas, sugerindo essa experiência que as pessoas mais solitárias eram mais suscetíveis às dores e, portanto ao sofrimento.
Como afirma o Neurologista Cacioppo, “O cérebro do solitário fica em um estado constante de alerta as ameaças.” A presença de outros na nossa vida, promove em nós a experiência da sensação de segurança. 
Uma pessoa mais solitária é mais ameaçada, mais ansiosa... e ainda carrega a desagradável sensação de desamparo.
Somos seres sociais e como tais, precisamos ao longo da vida encontrar aqueles que fazem parte de nossas afinidades. Quando nascemos não escolhemos quem iremos encontrar, porém no decorrer da nossa existência, vamos personalizando nosso convívio através das escolhas. 
Um bom critério de escolha? Afinidades positivas.
Do mesmo modo que existem pessoas que suscitam em nós o nosso lado bom, há os que fazem emergir pensamentos e sentimentos ruins.
Podemos realmente encontrar pessoas que promovem em nós o pessimismo, a melancolia, a frieza dos sentimentos, e outros tantos perniciosos a nossa qualidade de ser. 
Aos bons encontros devemos nomeá-los de amigos, aos outros perniciosos, de perigos. 
Somos influenciados pelo meio. Pessoa alguma é absolutamente impermeável a influência do outro.
Portanto, se amar constitui-se também da noção sobre a autoproteção.
Existe uma fábula do filósofo alemão Schopenhauer que expressa muito bem a medida da proximidade com o outro, seja quem for: os porcos-espinhos precisam se aproximar para que não morram congelados de frio, mas devem se manter longe o suficiente para não se ferir – Uma verdadeira atenção para encontrar a distância segura entre a proximidade necessária e a dor.
As aproximações são inevitáveis, mas as boas escolhas de nossos pares de amizade, as frequências e distancias são componentes de um importante aprendizado. Conviver é trabalhoso, mas necessário.
Fui assistir o musical “Milton Nascimento-Nada Será Como Antes” e me lembrei da Canção da América composta em 1980 que canta em seus versos:
“Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração...
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam “não”.
Sentada ao meu lado direito estava uma amiga que guardo do lado esquerdo, ao meu lado esquerdo estava outra amiga que mora no mesmo lado. Ambas são partidárias do meu desejo de assistir peças de teatro, musicais e do prazer em sair para jantarmos e desta forma comemorarmos a vida que vale a pena ser vivida. 
Na entrada do Teatro Net Rio, que é um espaço amigo das artes, encontrei duas que não via há tempos, mas que meu coração na hora me disse que ainda moravam nele... Assim como tantos outros amigos que moram em mim e com os toques de suas presenças internalizadas em meu coração, contribuem para eu me sentir vivo. 
Minha amiga que se descobre com sua “toqueterapia”, nos revela que todo toque de carinho ajuda a nos sentirmos mais vivos.
Cada pedacinho de você encontrará um espaço no outro. Cada outro trará o encontro com você mesma.
Cada encontro com você um crescimento, um despertar.
Aproveito estas linhas e faço uma homenagem a Hebe Camargo... que deixou inúmeros amigos e foi encontrar no céu, duas de tantos anos... Sarita Campos, que conheci, e Nair Belo. O céu deve estar bem animado, pois Hebe era uma festa.
Após descobrir as boas escolhas e aprender as boas formas de estar juntos, abrace suas amizades e diga como Hebe - “Como é grande o meu amor por você!”


Manoel Thomaz Carneiro

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Assim É, Porque Assim lhe Parece


Assim É, Porque Assim lhe Parece.

Tenho uma amiga, que possui um pensamento que atua como parâmetro para reflexão sobre situações de sua vida. Em alguns cafés reflexivos que tomamos, ela solta: “Manoel... Assim é, porque assim lhe parece”.
Com toda razão ela mantém essa premissa sem qualquer risco de abandona-la, pois uma coisa nos é, porque acreditamos que ela seja assim. Enxergamos de um modo muito pessoal. O psicólogo americano Michael Shermer esteve no Brasil para lançar o livro “Cérebro & Crença” e numa entrevista para o Jornal O Globo, falou que o foco deste trabalho esta na sua ideia que “as crenças vêm primeiro e as razões que construímos para justifica-las, sejam elas quais forem – vêm depois”. E, prosseguiu – “Nosso cérebro age como um advogado num julgamento: montando evidências a favor de seu cliente, que nesse caso são nossas crenças e ignorando ou recusando todas as provas que não se encaixam ou derrubam essas crenças... Então há um leque de inclinações que podem ou não ser verdadeiras”.
Na vida somos dependentes em acreditar em algumas coisas, conforme afirma o jornalista Alberto Scofield Jr que realizou esta entrevista.
Uma pessoa através da imaginação é que constrói a sua própria imagem. Se ela tiver uma visão inferiorizada das suas competências e do seu próprio corpo, terá um sentimento depreciado. A partir do momento em que se acredita assim, a ideia a respeito de si mesma será essa.
Para o bem ou para o mal, somos produtos daquilo que acreditamos ser.
Quantas pessoas sem grandes atributos físicos, mas com crenças positivas, que se imaginam bem, atuam na vida com sensualidade, humor e segurança. Elas constroem um corpo subjetivo que sobrepuja o corpo objetivo.
Quando alguém se deprecia se batizando, por exemplo, de lerdo e de burro, agirá calcado nessas crenças e seu cérebro irá funcionar sob esses pilares conceituais.
Homens e mulheres que não acreditam nas possibilidades e nas grandes ideias de crescimento, irão sem perceber, construir seus cotidianos coerentes com essas crenças. Permanecerão nos subtons do que poderiam ser.
No livro Cinquenta Tons de Cinza, da escritora inglesa E L James, a personagem, estudante de literatura, Ana (Anastásia Steele) não acredita que possa realmente mobilizar o jovem, bonito, bem sucedido e misterioso Christian Grey. Ingênua e imatura em relação a si mesma, aos vinte um anos nunca teve um namorado, possui uma autoimagem aquém daquelas que “Sr Grey” enxerga.
Grey vê nela aspectos que Ana ainda não realiza aos seus olhos.
Já na contramão desta autodepreciação, Christian Grey num jogo que a tradução do título faz uma inevitável perda no sentido, de uma vez que o seu sobrenome tem o som da palavra cinza em inglês, enxerga em si os cinquenta tons dele mesmo, ou seja, cinquenta tons de cinza. Um personagem em que a confiança e o narcisismo básico são as alavancas para as conquistas financeiras e as investidas sensuais que ele faz revelar aos olhos de quem lê o romance. Certamente, um homem não de um tom só.
É certo que precisamos dos olhos do outro para criar a alteridade – a noção do outro e a noção de si – mas precisamos de nossos olhos para nos apropriar daquilo que perfaz o nosso potencial. O olhar de Grey irá despertar Ana, mas apenas aos poucos quando restaura a sua autoimagem é que ela começa a se transformar na vida.
Paris tem um codinome “Cidade Luz” e um grande percentual da humanidade atribui este título a sua iluminação e como é de fato bem aproveitada neste aspecto, o mito errôneo se mantém. Muitos visitam-na, revisitam-na e pensam ter conhecido a razão de tal nome ao se deparar com a elegância feérica da iluminação nos monumentos, nas edificações, sem falar na cúpula de vidro do Grand Palais. Curioso saber que este nome vem da florescência das ideias no séc. XVIII, época também dos enciclopedistas que organizaram os conhecimento sob a forma das enciclopédias. Paris recebe um olhar por vezes errôneo e perde muito por não saberem da sua influência no modo de pensar da humanidade. Além da moda e das etiquetas, Paris trouxe uma revolução no refletir a si mesmo. Ao saber a respeito disso a cidade se abre mais, se descortina aspectos dela que a torna mais fascinante. Quanto mais tons a partir de um matiz, mais nuances de uma mesma coisa salta a nossa percepção.
Como vemos cada cidade tem uma imagem, que por vezes não corresponde ao que é no real. Exatamente como pode ocorrer com cada um de nós, pois muitas vezes temos impressões que não correspondem ao que somos. Uma grande maioria dá uma nota baixa a si e vive com esta discrepância injusta originada de suas conclusões e ideias inferiorizadas.
Quanto mais aprendemos a nos descobrir, mais matizes de nós saltam a nossa percepção. Se soubermos de quais tons compõem nossa maneira de ser, saberemos combina-los bem e de modo mais fácil, saberemos definir o que é melhor para cada aspecto de nossos traços.
O pseudoconhecimento nos leva a enxergar uma coisa, quando na verdade é outra. Uma coisa se torna para uma pessoa aquilo que ela acredita ser.
Somos aquilo que acreditamos ser.
Quando alguém vê em nós possibilidades e qualidades, as vezes achamos que é apenas um olhar gentil, que não condiz com o real.
São várias as causas desta autodepreciação, desta falta de luz em direção a si mesmo, mas para mudar é importante falar com seu advogado interno, que defende você nas boas causas para que não cometa o delito da autodistorção e que ele pela suas novas crenças positivas, possa implantar a clareza da verdade, começando a sua defesa pelo título da peça do dramaturgo italiano Pirandello “Assim É (Se Lhe Parece)”.
Perceba a liberdade que a luz desta ideia traz.
Rever as crenças é importante.
Como dizem nos cafés ponderativos – “A vida é igual tapete, de vez em quando precisa de uma sacudida.”
Aquele que não se descobre se desperdiça.


Manoel Thomaz Carneiro

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Você Gosta de Estar No Mundo?



Você Gosta de Estar No Mundo?
Li no caderno Zona Sul do jornal O Globo, numa reportagem sobre a paixão de Tom Jobim pelo Jardim Botânico, uma declaração que a ligação de Jobim com a natureza começou sob a influência do avô que teve um grande papel em sua vida, já que o pai se separou cedo e o deixou quando era pequeno. Essa semelhança com o avô foi mantida nas duas gerações seguintes, na figura do filho e do neto de Tom: Paulo e Daniel. Traços de um foram absorvidos no outro, numa linearidade existencial.
Ao assumir a função paterna o avô deu uma referência de identidade a ser guiada. Seu amor se inscreveu no outro.
A psicanálise sempre afirmou o que as pesquisas hoje apontam: que a presença do pai cumprindo sua função tem influência na autoestima e em outros aspectos psicológicos da vida de uma pessoa. É um dos bons vetores que influenciam nossa maneira de estar no mundo. A família Jobim está no mundo com poesia, a mesma que habitava a alma do avô de Tom.
Tanto Freud quanto posteriormente Lacan rompem com a tendência de apenas imaginar o pai por meio de sua presença ou ausência física. Eles defendem a ideia da existência de substitutos. Na ausência física de um pai biológico, qualquer um que corte a díade mãe-bebê terá a força para exercer a função paterna.
O Pai Função é entre tantas coisas aquele que contribui para o melhor desenvolvimento das seguranças.
A nossa mãe nos coloca na vida e o nosso pai nos insere no mundo. 
Quando um pai leva uma filha para passear, elogia e demonstra o seu afeto, essa menina guardará para a mulher futura que ela será, uma expressão de amor que será a base da sua autoestima. A vivência desse olhar abastece as necessidades do psiquismo e se torna a alavanca para o processo saudável de individuação.
Quando penso nesta função e nos efeitos nefastos de sua ausência, sempre vem aos meus pensamentos Marilyn Monroe. Completamente destituída de segurança pessoal e feminina, passa sua vida na busca eterna de um amor que pudesse suprir a falta de um olhar paterno que a fizesse se sentir desejada e passível de reconhecer seus valores e suas competências. Apesar da vivência dos testemunhos de sucesso e adoração nada a fazia se sentir transformada em sua confiança e suprida em sua carência... O seu corpo subjetivo não se nutria daquilo que seu corpo objetivo vivenciava. Essa clivagem marcou toda a sua trajetória.
Ser pai ultrapassa a função provedora. Muitos pensam que ao propiciar alimentos, casa, viagens promovem os alimentos absolutos que uma criança precisa.
Necessitamos do olhar, precisamos ser abastecidos das certezas de sermos desejados, de sermos fontes de prazer por existirmos, para que mais tarde possamos acreditar que a nossa existência no mundo tem um lugar no desejo.
Nascemos várias vezes. A primeira, quando nosso corpo chega a vida, a segunda quando nosso corpo subjetivo é concebido através do olhar paterno e na terceira quando conscientemente reunimos tudo e começamos a gerar a si mesmo com delicadeza e amorosidade. Com certeza Marilyn não pode realizar a segunda e terceira etapa desta evolução. 
Daniel Jobim conta que o avô Tom o tirava logo da cama para ver os pássaros que só aparecem com os primeiros raios de sol. Faziam caminhadas pelas trilhas e que aprendeu desde pequeno a abraçar árvores... Disse que esta essência acabou se tornando tão inscrito nele que parece que faz parte do seu DNA.
Meu pai também me fazia abraçar árvores e dizia que era para renovar as energias. Falava para eu ficar quietinho para perceber a vibração dela em meu corpo.
Não abraço mais árvores, mas toda vez que quero a presença do olhar, abraço a lembrança deste pai que hoje internalizado e imortalizado em minha consciência, vive me abraçando para orientar meus caminhos de amor a mim mesmo e a vida.
Até hoje ele contribui para minha boa maneira de estar no mundo.
Eu gosto de estar neste mundo que meu pai me ensinou a desejar... E Você?
Lembra daquele que realizou a função paterna?
Aquele que por vezes nem foi seu pai biológico, mas que olhou e ensinou você a olhar um bom modo de estar no mundo. Abrace estes olhares para abraçar melhor a vida.
Abrace as boas lembranças de amor.
Gostamos mais de estar na vida quando lembramos do amor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Comemoração



Um rito de passagem: 10.100 acessos! Obrigado a todos que construíram este momento.
Vamos continuar desenrolando os novelos psíquicos freudianos, para juntos tecermos uma nova trama de resiliência e amor.
Manoel Thomaz Carneiro

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Prazer no Banal


Prazer no Banal
Fui a São Paulo e aproveitei para visitar a exposição Caravaggio no MASP, como era relativamente pequena, me restou tempo para rever no segundo andar a mostra “Romantismo”, organizada com 79 obras do próprio acervo. Além das telas, me encantei mais uma vez, com os textos que a curadoria selecionou para explicar, de forma filosófica, a sequência das obras. Abaixo de uma delas estava este pensamento do poeta alemão Ludwig Tieck – “Deveríamos fazer do comum algo extraordinário e então nos surpreenderíamos descobrindo que está muito perto de nós a fonte de prazer que buscamos em algum lugar distante”.
O prazer no banal é uma conquista a ser realizada na vida, que impõe para tal, muitas vezes, uma revolução psicológica no modo de pensar, pois exige voltar atrás em relação às premissas em si estabelecidas do que é o prazer e a dinâmica dele em nossa vida psíquica. Como diz o curador da exposição, para toda revolução ser realizada, deve-se voltar atrás em algumas ideias e eleger outras que não se considerava corretas.
Para que uma pessoa se modifique, ela deve se abrir à percepção de que qualquer mudança envolve disponibilidade para rever premissas, disponibilidade para reconhecer se a permanência delas traz o prazer que deseja, e a partir daí buscar introjetar novos paradigmas para refletir a vida.
O prazer que temos com algo está em nossa mente e não na coisa em si. Se tivermos uma criança que brinca durante horas com uma boneca sem braço, com um carrinho sem porta, com um cavalinho sem perna, enquanto que outra chora porque os brinquedos estão imperfeitos... O que estaria acontecendo? Qual seria a diferença entre elas? 
A diferença entre uma e outra, entre o prazer de uma e o desprazer da outra, estaria no grau de envolvimento e na sua implícita psicologia pessoal. A que brinca e extrai prazer com os brinquedos incompletos, vive a poesia no banal e a que não consegue, destrói a poesia com seus olhos áridos e faz com que reste para ela se alimentar apenas da sensação do banal, porque o grau de exigência e ilusão em relação ao seu prazer é imenso.
Um grau de exigência muito elevado, incompatibiliza a conquista do prazer na vida real. Torna-se uma ilusão. 
Por isso concordo com a ideia de outro pensador alemão Ludwig Borne “Perder uma ilusão torna-nos mais sábios do que encontrar uma verdade.”
Alguns esperam que as coisas sejam encantadas, outros se encantam com as coisas, uns delegam a mágica ao mundo, outros põem o mago em si mesmos.
A “Arte do Entusiasmo” é para ser desenvolvida na nossa alma, para que altere a nossa vivência no mundo das banalidades. É a arte do envolvimento com aquilo que está a sua frente. Aprender a viver sem um antes e um depois.
Muitas vezes a memória de uma pessoa mais velha não é pior do que a de uma jovem, apenas o seu olhar está pousado em outro lugar. Uma pessoa considerada psicologicamente idosa, independentemente da idade, é aquela que tem para si, a ideia de que os conteúdos da vida que a fascinavam, já não mais existem: considera que tudo que é encantador ficou para trás e que o futuro perdeu o sentido a ponto de parecer que não tem mais significado. O Entusiasmo se foi... e a velhice se estabeleceu... 
Há velhice em qualquer idade, para ela se estabelecer basta perder o entusiasmo. Ao contrário do que pude sentir ao visitar no mesmo dia a Fundação Ema Klabin. Lá percebi, o quanto uma mulher viúva e sem filhos não fixou o seu olhar no passado, nas suas ausências e encontrou em si o encantamento. Traçou como meta usufruir a sua existência, lançando um contínuo olhar curioso sobre o mundo, a música e a arte. Deixou para nós as suas paixões e o seu vigor no viver. 
Após estas visitas, sentei na “Pâtisserie Douce France” nos Jardins e pedi um café, um pedaço de bolo e me disse, que minha vida nunca iria virar abóbora... Que ficaria atento, para que mesmo voltando a São Paulo pela enésima vez, não deixaria nada se transformar em banal... Que a idade viria, mais um ano se completava em minha vida naquela semana, mas que nunca iria permitir que os momentos perdessem os seus encantos. A magia estaria sempre em meus olhos.
O Romantismo, tema da encantadora exposição, é antes de tudo um movimento de adesão as cenas do instante. Não mais apenas a contemplação.
No enamorar romântico com os instantes, uma pessoa vê a poesia, a beleza e o prazer, pois se mistura na entrega em estado de amor.
Se o seu cavalinho estiver manchado e desbotado, o seu olhar interessado, o seu novo enamoramento, fará revelar o perfeito no imperfeito. Deste modo se realiza a sua Revolução Romântica, e você passará a viver como diz José Castello a “Poesia no Banal” e... “a ter a existência e a vida diária como um contínuo objeto amoroso”.
O olhar enamorado para as exposições, para os restaurantes e o pedacinho de Paris em São Paulo, ou em qualquer outro lugar, faz transformar o Banal em Poesia. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Os Seus Amores, Você Os Conhece? Parte 3 A Busca do Grande Outro


A Busca do Grande Outro

Quando chegamos numa cidade que não conhecemos e que não dominamos o idioma, gostamos de ter alguém que nos espere e oriente. Alguém que nos acolha e nos dê indicações, para que possamos seguir nossos caminhos.

Nasci no mês de agosto e quando cheguei neste mundo, que lógico não conhecia, tive quem me esperasse. Aliás como caçula, nasci após onze anos, muitos me esperavam, muitos me acolheram e me orientaram. Foi neste meu primeiro encontro ao nascer, que foi plantada em mim a semente do amor. É deste primeiro encontro que nasce o amor na experiência humana. 

Mais tarde na vida quando uma pessoa “elege” um objeto de amor, está na verdade de modo inconsciente instigada por um movimento de busca. 

Busca de que? Busca de encontrar aquele abraço acolhedor em sua chegada na vida.

Quanto mais acolhida foi uma pessoa, mais o seu mundo psíquico é abastecido de amor e com isto poderá fornecer na fase adulta, a crença quanto à existência deste sentimento. A psicanálise afirma, que encontrar um objeto de amor é, de alguma forma, reencontrá-lo. 

A presença do “Grande Outro” é fundamental para o equilíbrio da nossa vida psíquica. A própria psicanálise é um exercício de acolha através da escuta e do olhar, que busca neste modo propiciar o amansamento de uma dor existencial.

Em 1981 a Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico no Rio, começou a trocar o eletrochoque pela conversa para fins terapêuticos com os psicóticos. No grupo de estagiários estava Rosângela Magalhães, que desenvolvia um trabalho de escuta no núcleo de portadores das psicoses graves. Entre eles, se encontrava o que se tornou o grande artista plástico Bispo do Rosário. Em recente entrevista para a Folha de São Paulo, Rosângela conta – “Eu o acolhia, tentava compreendê-lo e vivenciar com ele o que era ficar ali fazendo aquelas coisas.” Nos relata que após um tempo, Bispo passou a escrever o nome dela em suas obras e ela ainda serviu de inspiração para duas grandes criações, que inclusive estarão na Bienal de São Paulo deste ano. Foram três anos de trabalho, três anos de amor platônico, que ajudaram a canalizar o sofrimento dele através da palavra e este acolhimento terapêutico, se transformou pouco a pouco numa arte de altíssimo nível. Conseguiu sublimar sua dor através da arte. 

Assim como Bispo de uma certa forma renasceu, podemos também fazê-lo em cada abraço de amor. O encontramos nas ideias acolhidas, nas dores escutadas, nos olhares percebidos, nos sentimentos adivinhados, nas gentilezas, nos lugares agradáveis, encontramos também nas orientações que nos proporcionam, nos estímulos que nos dão. Somos “necessitantes” dos abraços amorosos físicos, psíquicos e espirituais. Além dos momentos agradáveis, também buscamos sermos pares. Esta busca nos revela o que desejamos inconscientemente no amor: nos consolar, nos apaziguar e nos estimular.

Mas será que a busca é a mesma para todos? 

Se disser sim, cometeu um engano. 

Cada um ama sob uma forma pessoal.

Amor Espelho... Amor Projeção... Amor Transferencial...

No Amor Espelho uma pessoa deseja o igual, quase o desdobramento do seu mesmo. Quando se fala de alma gêmea diz-se sobre esta relação espelho. 

O Amor Projeção procura no outro o que gostaria de ser e não é. É a busca complementar de traços, qualidades e forças. O amor projeção anseia o outro, mas de modo a somar diferenças, como se fosse a união de especialidades para construir um projeto de existência.

Já no Amor Transferencial se deseja encontrar no outro o que um dia se foi, mas por alguma circunstância não se é mais.

Alguns poderiam dizer que uma relação então, é algo de essência neurótica, pois se busca no outro o que falta em si mesmo ou o espelho do que se é. Primeiro, não há procura de algo sem falta e se somos este ser a procura, somos também seres com lacunas; segundo, ninguém basta totalmente a si mesmo. 

Toda relação implica em ser afetado de algum modo pelo outro. 

Uma pessoa absolutamente isolada e imutável não existe. Como diz o psicanalista francês Philippe Jeammet – “Nossas células se renovam, nossos genes se exprimem em função dos ambientes e todas as conexões neurais se enriquecem com os estímulos externos.” O mundo que nos cerca nos afeta para o bem e para o mal. E prossegue – “Até o fim de nossa vida somos seres a se tornar, em cocriação com aqueles que nos cerca.”

No livro “O Segundo Suspiro” que inspirou o filme francês “Intocáveis”, Philippe Pozzo di Borgo escreve – “Um dia, me espatifei entre o mato verde e o inferno”, relatando o acidente de parapente que o deixou tetraplégico. Este relato autobiográfico que levou 20 milhões de franceses ao cinema, fala sobretudo da importância das relações humanas, da necessidade da presença do outro em nossas vidas. Como disse Philippe – “Tudo seria melhor se compartilhássemos mais.” A dinâmica da convivência de Philippe com Abdel Sellou contratado para ser seu ajudante pessoal, mostra como cada um tem algo especial a oferecer e como somos estimulados pelos aspectos de cada pessoa presente em nossas vidas. A presença do “Grande Outro” fortaleceu Philippe, mas também fortaleceu Abdel. Como disse Philippe, os dois foram afetados positivamente um pelo outro. Philippe absorveu de seu acompanhante o tino de sobrevivência, a lealdade e o senso da boa ironia e Abdel, o respeito pelo outro, por si mesmo e o que se é capaz de realizar se dermos duro na vida. O “amor projeção” presente nesta amizade, demonstrado neste filme biográfico, construiu duas novas pessoas. Através da boa convivência se tornaram mais aprimorados e capazes. Sem perceber conscientemente, pouco a pouco ,construíram o escudo para permanecerem “Intocáveis” em suas essências, em relação aos seus dramas pessoais.

Ao se refazerem, se reestruturaram para uma nova etapa. Uma forma de nascimento para cada um. 

Em cada aniversário que comemoro, recebo das pessoas beijos, palavras de carinho... abraços de amor. 

O aniversário é mais do que uma comemoração é uma data de renovação e continuidade.

O melhor presente?

Se cercar de presenças amorosas, para que a alma possa sempre se manter Intocável a Dor e Sensível ao Amor.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os Seus Amores, Você Os Conhece? - Parte 2


Os Seus Amores, Você Os Conhece? 
Parte 2

Nas minhas viagens, gosto muito de caminhar pelas cidades que visito... Caminho muito, mas aqui no Rio, pelo fato de correr oito km pela manhã, não o faço. Outro dia, depois de apanhar um exame, resolvi incorporar meu andarilho e lá fui percorrendo lugares pelos quais só transito de carro. Após um tempo nesta promenade, uma voz feminina, sem que eu me desse conta da presença, me disse: “Me desculpe, mas amei a tua sacola retrô da Phebo”... Quando me virei em sua direção, vi que se tratava de uma estilosa mulher e me senti até lisonjeado e ela prosseguiu com um ligeiro cantar baiano meio Gabriela. “Onde é que a conseguiste?” Quase respondi meio Nacib - “Vixe, é fácil!”, mas foi com o meu carioca que expliquei que havia acabado de comprá-la na Granado, para carregar mais facilmente o que havia adquirido em volume de estoque. Amo estocar... aí... já é uma questão zodiacal: virgem planeja o cotidiano como se fosse um planejamento existencial.
Se o amor, como se define em psicanálise, tem como causa em seu centro, “o vazio da Coisa em que um significante é requerido para entrar no espaço da incompletude”, pensei que a partir de então na vida desta “Gabriela Urbana” iria faltar esta sacola... Encontrou o objeto de amor... que não iria lhe pertencer, mas por ter liberdade interna e automerecimento fez o que cabia a si mesma: tentou saber ao máximo onde encontraria o objeto do desejo. Tive até vontade de lhe dar a sacola, mas como carregaria na minha caminhada o meu estoque virginiano?
Ela amou uma coisa que a faria se sentir melhor, mais interessante, para completar seu estilo também retrô e de certo modo, fazê-la mais passível ainda de ser amada.
Todos temos uma parte “hiante” que busca o outro. O problema é que em algumas pessoas este “hiante” é imenso, deixando um vasto espaço para a busca deste “Grande Outro”. Falta a estas pessoas de grande hiato interno, uma dose de amor narcísico, formador do amor próprio. 
Uma pessoa sem nenhum amor próprio, se entrega inteira não só ao que será o seu par, mas ao que será, neste caso, uma perigosa formação de seu sujeito próprio. 
O “Amor a Si” nos preserva. Deixa um espaço protegido onde Outro amado não será capaz de entrar.
A conquista de uma dose equilibrada de amor narcísico mantém os olhos abertos, para que a entrega seja realizada com capacidade de fortalecer a autoconservação do eu.
No mesmo dia do encontro com a minha Gabriela, na visita que realizei ao Museu de Belas Artes, encontrei um quadro sobre o amor, com a imagem de uma mulher cercada de dois anjos: a sua esquerda o anjo do amor e a sua direita – lado da razão – o anjo da sabedoria. Preciso falar mais?
O amor a si se constrói sobre as bases da formação da Identidade de Força. Criar esta Identidade antes de se fixar na busca do amor é uma sabedoria que aquela alegoria pictórica tão simbolicamente nos indica. 
O que é isto? 
Toda vez que você luta por uma coisa para você mesma como pessoa; toda vez que você assume a responsabilidade de lutar para ser você na autoimagem que deseja; toda vez que você se alimenta de orgulho sobre algo que tenha realizado; toda vez que você vence um traço seu inibidor de sua expansão, como vencer uma timidez, um excessivo constrangimento; toda vez que você retira de sua autoimagem uma ideia que a define de modo depreciativo, você preenche a si com o amor narcísico.
Você no amor equilibrado se preserva; define limites de tempo; preserva o direito de realizar escolhas; de manter amizades; realizar atividades em que o Grande Outro não esteja necessariamente inserido. Disponibiliza apenas uma parte de si mesma para o outro. 
Como bem disse Millôr em seu livro A Bíblia do Caos, “o amor convencional – relação a dois – fica entre o amor-próprio, individual, e o amor impróprio, a três”. Pois é, o amor tem que ficar exato no ponto de equilíbrio, para não se tornar um engodo amoroso.
Penso, depois destas ponderações sobre a nossa demanda de amor na vida, que a Gabriela da minha caminhada pelo Rio, saberá encontrar a sacola retrô, saberá também encontrar o amor e saberá sobretudo, se manter inteira nesta entrega... Pelo menos assim fantasio...
Pela sua atitude, esta menina mulher me pareceu ter uma Identidade de Força, enamorada antes de tudo de si mesma, e pude imaginar que ela saberá não apenas encontrar o amor, mas, sobretudo através da sua segurança interior, saberá Viver.
Mas... se você desejar saber o que representa e o que buscamos no “Outro”, na próxima semana falarei sobre a busca do Grande Outro.
Até lá, seja andarilho na reflexão sobre a Busca de Si Mesmo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os Seus Amores, Você os Conhece?


Fui num sábado levar uns primos de Belo Horizonte para mostrar o Arco do Telles e todo o corredor cultural e gastronômico daquela região. Quando depois de umas caminhadas, passando pelos conjuntos de música que cada canto oferece e fazermos uma inevitável parada pela inusitada lojinha dos verdadeiros chapéus de panamá, estávamos num restaurante na Rua do Rosário e minha prima de uma hora para outra disse “Estou amaaanndo este lugar” e confesso, que amo também a mudança de atmosfera que aquele pedaço do centro do Rio nos oferece no fim de semana...
E, pensei: amamos lugares... pessoas... viagens... e outras tantas coisas, mas afinal o que é de fato o amor?
Poderíamos usar a palavra amor para tudo isto?
Lembrei-me da definição psicanalítica que diz - Amor é uma relação entre você e um Grande Outro, deriva-se de uma identificação com o semelhante não semelhante. É um processo de afinidade constituída de razões bem objetivas e outras tantas subjetivas.
Se eu considerar que me identifico com aquela atmosfera de mesas nas calçadas, inseridas no entorno de um luso-brasileiro, com os sabores feitos por um chefe de cozinha francês e que além dos pães tem um patê inesquecível, eu posso, ela pode e todos podem recorrer a palavra amor, para expressar o quanto de prazer nossa alma experimenta... quando estamos mergulhados num contexto semelhante aos desejos, e ao que então buscamos. 
Penso neste amor, através de uma frase que anotei neste mesmo sábado amoroso, em uma exposição de fotos do acervo do Itaú no Paço Imperial, que após a reforma vale uma visita, um passeio agradável que nos leva a salas onde aconteceram momentos tão significantes da nossa história e tudo pode terminar no café... Aliás, uma boa maneira de preencher esses dias que acontecem na vida da gente, mas voltando, a frase anotada, era assim: “Captar raios de luz para impregnar uma superfície e com isso prolongar até o infinito a permanência volátil do tempo e da luminosidade da vida.”
Esta definição sobre a fotografia me lembrou o amor. Uma foto busca a luz para impregnar o instante e eterniza-lo trazendo a cena o momento ou a pessoa para a imortalidade. E, o que é senão o amor uma busca de Luz para os nossos instantes? 
O amor que é busca que nos põe em busca, é uma forma de captação de luz, para impregnar a nossa superfície volátil da existência e nos fazer mais prolongados no desejo de permanecer em cada tempo das nossas vidas. Tive vontade de que aquele sábado nunca mais acabasse, como outros tantos momentos da minha vida. 
O encontro com o amor expande nossa vontade de viver. E, nos fazer assim é transformar nosso ser em perspectivas.
Somos também buscadores de olhos amantes sobre nós. Olhos amantes de nossas ideias, nossas ofertas, nosso corpo. Assim como os curadores de uma exposição, os chefes de cozinha, os bandolinistas preparam suas oferendas sob várias formas como modos de captação de olhos amantes ao que fazem e, portanto, ao que são.
É de fato uma delícia ser reconhecido e acolhido pelo outro... Por isso, sempre que sinto um prazer com alguma coisa que alguém tenha feito, mesmo que eu esteja na posição de cliente, procuro manifestar o meu prazer e o meu agradecimento para aquele, que naquele momento foi um contribuinte para que a minha vida se tornasse mais agradável, mais iluminada, mais amorosa.
A busca do amor dá sentido ao que somos.
Naquele sábado estava cercado de amores, o que vi, o que almocei, onde e com quem estava. Foi um sábado, posso assim dizer, narcísico, por ser um espelho do que gosto e também uma projeção do que sou e amo fazer.
O psicanalista Nasio fala que o amor é uma espera e a dor a ruptura súbita desta espera...
Posso dizer que estou sempre no amor, pois a esperança é a companhia que não abandono. A convido todos os dias para sair. Onde quer que eu esteja ela nunca é demais. Adapta-se a tudo, é positiva e, portanto uma presença extremamente refinada.
Você já escolheu o seu sábado?
Conhece os seus amores?
Estou aqui com a esperança torcendo para que eles sejam sempre amores de poeta, “Infinitos enquanto durem”.
Se você desejar saber mais sobre o amor, fique atento... na próxima semana tem mais!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Momentos... Acolhas ou Perdas.


Adoro a lua em todas as suas formas. Numa noite a contemplando numa varanda, de um lado me chegava o som de um piano, de outro, uma voz me trazia músicas da bossa nova. Esta atmosfera onírica me levou a pensar o quanto o mundo exterior penetra em nós.
Este tempo de sons e lua me reportou a um conceito da psicanálise, que fala que somos os conteúdos psicológicos pessoais somados a tudo que entra através dos sentidos em nossa essência.
Somos desde que nascemos devoradores dos mundos nos quais transitamos. Numa espécie de eucaristia nos alimentamos do que nos cerca. 
Absorvemos as paisagens, as atmosferas, os toques físicos, ingerimos as ideias, as presenças e também as ausências. 
Recentemente fui jantar num novo restaurante em Búzios, mas faltava atmosfera. Faltava sensualidade no ambiente para que além do prato, o olfato e a visão também encontrassem seus alimentos... Parece desprezível, mas somos estes canais de entrada que dão acesso aos caminhos de nossa alma. A partir desta comunhão com o exterior nos nutrimos para continuarmos na vida.
Nilton Bonder, numa entrevista para a revista “Lola”, afirma que “o fundamento da vida é saber ser participante”.
Como poderíamos refletir este pensamento de Bonder?
Primeiro, pensar em cuidar da percepção do papel que cada coisa, cada pessoa e cada ideia tem em relação ao que somos, ao que seremos, ao que sentimos e também ao que sentiremos. 
Saber ser participante requer desenvolver o reconhecimento das verdadeiras e por vezes sutis fontes exteriores de vida, requer também aprender o papel fundamental do zelo.
Zelo em que?
Zelo nas escolhas das amizades, das ideias. Zelo na atenção ao momento.
Quando saímos para jantar, selecionamos aonde vamos, e lá observamos a mesa, os pratos numa sucessão de cuidados. Tudo para que a noite seja agradável. Tudo para que os momentos permaneçam em nós.
Assim como ornamos nossa casa para que a vida nela seja confortável e agradável, as pessoas devem aprender a ser decoradoras do seu cotidiano. Afinal ele é um espaço a espera... Quem melhor souber preenche-lo melhor saberá viver. 
Para sermos “bons participantes” da vida o que mais devemos perceber?
Perceber a transitoriedade das permanências.
Cuidar destas permanências é reconhecer que tudo na vida sempre cumpre um ciclo. Surge, nos alimenta e acaba. Devemos portanto tentar estar inteiros quando a música e a lua se fizerem presentes. Evitar estarmos em dois lugares ao mesmo tempo, para que possamos deixar a música se calar, para que ela possa permanecer em nossa alma.
Muitos estão no cinema ausentes do momento, outros embarcam apenas metade de si para uma viagem e, ainda, há aqueles que se perdem tanto em seus pensamentos que se tornam incapazes de reter a vida... São perdulários dos momentos. Pena, pois gastam o que não se recupera.
Laços profundos com os momentos é um modo de fertilizar a sensação de estar vivo, de estar vivendo.
Às vezes para mim, algumas pessoas, recorrendo a uma expressão de Drummond, apenas passeiam seu espanto pela natureza. Espanto de que?
De serem uma “vaguidão personificada”.
Depois de um tempo em minha varanda, a lua se foi, mas não sem deixar as boas marcas da sua presença. A minha lua se foi, mas me trouxe na simultaneidade de sua partida a luz de um novo dia.
Nesta luz a clareza da natureza dos ciclos. A clareza da transitoriedade das presenças. A clareza da importância de cuidar de cuidados às presenças em nossas vidas. Pois tudo é uma visita. Somos os anfitriões que devemos saber acolher, usufruir, cuidar e deixar partir.
Um filme acaba, a música silencia, a lua parte obedecendo a sua trajetória, o tempo da varanda se esvai, mas tudo deixa para nós o rastro de sua existência. Como esta crônica, que chega ao seu final esperando que cada palavra encontre ressonância no coração de quem a lê.
A sua vida é como esta varanda, esperando você chegar...
Ao chegar nesta linha, depois de algumas releituras a lua reapareceu para novamente me visitar. Agora, vou recebê-la.

Imagem: “Sonata” de Thomas Mcknight

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Reinventar a Vida - Fase 3

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"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." 
(Oscar Wilde)

Semana que vem iniciam as turmas do novo curso "Reinventar a Vida - Fase 3" ministrado pelo professor Manoel Thomaz Carneiro.

Turma 3ª feira das 14:30 h às 16:30 h
Início: 07 de agosto - Término: 25 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da Tarde das 14:30 h às 16:30 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da noite das 19:30 h às 21:15 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Centro de Eventos do Ed. Leblon Corporate - R. Dias Ferreira, 190 - Leblon
Informações e reservas: (21) 9983-5751 (com Ilana)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sonhos Indolentes e Sonhos Potentes


Tenho prazeres que gosto de viver no cotidiano. Um deles é comprar CD para ouvir no carro. Alguns, acerto na escolha e viajo nas letras... Estou com um do Línox que me leva às vezes torcer por uma ligeira retenção no tráfego, para que eu possa permanecer mais um pouquinho de tempo na faixa nove que começa assim:
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”
Adoro letras que se desdobram, narrando sentimentos e que me levam a pensar.
Destes devaneios, inspiro reflexões sobre a vida, sobre mim e quase sempre retiro alguma atitude para plantar.
Ultimamente tenho refletido sobre aqueles que sonham, mas vivem seus desejos de vida apenas em pensamentos.
O novo porteiro do meu prédio é tudo, menos a sua própria função... É visível para mim, que está na sua vida desabitado de sentido no que faz. Fala de futebol e fica claro que queria ser o Neymar; fala de ator e queria ser um Murilo Benício “Tufão” numa mistura ingênua de realidade e fantasia... Queria ser tudo que não é, mas seus desejos estão aprisionados em seus sonhos. Como muitos, fica a espera de um olheiro que leia seus pensamentos, fica a espera de alguém que descubra suas ambições e como uma criança, fica a espera de um pai que a leve ao seu mundo sonhado. 
Quantas Marias, são Marias ninguém querendo ser alguém, mas sem qualquer atitude na direção da realização dos seus desejos. Outras sonham com a magreza e no real vivem distantes do hábito que as levariam a se aproximarem do corpo sonhado.
Sonhos possíveis que são apenas sonhados se tornam “Sonhos Indolentes”.
Sonhos potentes são os que fazemos funcionar como planos e com isto se tornam vocabulário de nossa alma dizendo onde gostaríamos de estar.
A atleta Carolina Basílio na página Perfil do jornal O Globo, conta que teve que dar uma guinada em sua vida, quando parada em sua moto num sinal de trânsito em Niterói, numa fração de segundos, uma caminhonete avançou e decepou sua perna direita. Esta atleta de várias medalhas paraolímpicas em natação afirmou – “Hoje sou mais vaidosa do que antes do acidente. A vida é assim mesmo, a gente perde umas coisas e ganha outras.” E prossegue – “As pernas me deram muitas alegrias, mas estou tentando deixar isso para trás e conquistar novas alegrias com os braços.”
Carolina ao invés de olhar o que falta, fixou no que permaneceu intacto para projetar seus Sonhos Potentes de nadadora. Não ficou, como muitos, no “querer queria”.
Quantos “querem”, mas pela indolência, preguiça, insegurança e infantilidade permanecem imobilizados no “querer queria”.
Londres 2012 continua nos dando exemplos além de Carolina.
Nosso ginasta Diego Hipólito que passou por cirurgias em 2008, 2009, 2011 e no início deste ano, diz: “Tenho um sonho de ser medalhista olímpico e não vou abrir mão dele enquanto puder buscá-lo.”
As Tochas Olímpicas nestes atletas estão acesas em seus sonhos, iluminando suas decisões e perspectivas de vida.
As circunstâncias, bem como seus inerentes contextos podem, como tão bem afirmou Carolina Basílio, apresentar limitações, mas elas não definem limites na vida.
Se o meu porteiro compreendesse que para ser Neymar não basta apenas sonhar, tem que suar a camisa, tem que se colocar a frente de si mesmo, ele sairia de sua melancólica existência de Sonhador Indolente.
O importante não é buscarmos poder e cargos, mas sermos referência naquilo que fazemos. 
Sonhos indolentes não são sonhos, são pesadelos.
A distância entre você e sua frustração é do tamanho de sua visão limitadora.
Meu porteiro poderia se tornar o melhor porteiro que conhecemos, se transformaria até em conteúdo de sonho alheio.
Os sonhos que não nos prejudicam e os que não tenham o poder de ferir alguém, podem ser considerados planos de vida que orientam nossas direções. São sonhos isentos de maldades, vinganças e amarguras.
Tenho uma certa coleção de sonhos que podem ser vistos materializados na minha realidade, outros seguem me fazendo torcer pela chegada de mais um dia, outro ainda me fala do meu desejo que as pessoas se aproximem mais das realizações. O que faço para que este sonho não se torne um sonho indolente é tentar através destas palavras despertar a vontade de varrer a ideia do impossível. 
Como bem diz outra musica do mesmo CD: “O segredo é nascer para o que se vem.”
Sonhos só ganham chances de se tornarem realidade, quando extraímos de seu conteúdo as margens de nossas ações.
Os atletas olímpicos brasileiros Carolina e Diego, traçam as nossas esperanças nas medalhas e na vida através da busca de realização de seus sonhos.
Sabem que:
Pessimismo não é realismo, é arma exterminadora da vida possível.
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”