segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Vínculos

Como professor dos cursos que ministro no Leblon, ouço uma série de indagações em busca de compreensão sobre os sentimentos e as atitudes saudáveis para a perspectiva de uma vida equilibrada.
Um dos aspectos mais questionados é o que seria importante inserir e cultivar na vida.
Sábado retornei após alguns anos a Teresópolis, pois tinha um almoço na casa de uma amiga escritora com vários sucessos editoriais, cuja família se entrelaça em convívio há tempos com a minha.
Ao longo da tarde uma sensação de aconchego e serenidade se instalou em mim, que me trouxe um delicioso sossego na alma.
Éramos cinco a falar sobre tantas coisas e quanto mais o tempo passava, mais sentia surgir um elo de calor como se estivesse reforçando laços... Em um determinado momento, discorríamos sobre reencontros com pessoas que há muito não se veem, mas que quando ocorre, salta da alma a sensação de cumplicidade, como se o afastamento não tivesse apagado o alinhavo de amizade construído na trama da convivência.
Nesse momento divagador sobre distâncias e aproximações, a psicanalista que estava presente nos disse: “Quando a cumplicidade não se perde é sinal que os vínculos que ligam são fortes.”.
Pensei nesses vínculos que nos unem, que ligam uns aos outros e que são fundamentais em nossas vidas.
A certeza de termos estabelecido fortes alinhavos de amor com as pessoas significantes nos fortalece em nossa existência.
Quantas e quantas vezes o frio da incerteza pode ser abandonado devido a uma presença sincera, devido a uma tarde que nos envolve como redes de segurança.
A falta dessa liga afetiva pode potencializar angústias e pela sensação real do desamparo que surge, cria a ruptura da estrutura psíquica. A falta de unidade da mente causa sérias consequências psicológicas negativas.
A escultora Camille Claudel, apaixonada por Rodin em determinado momento da vida, foi abandonada por ele, pelo irmão, pela mãe e pelo pai, e internada num sanatório sem qualquer presença próxima e afetiva. Viveu a partir de então solta nos tormentos e isenta do amparo profundo, mergulhou numa gradual clivagem psíquica que a fez uma mulher absolutamente encerrada em si.
Muitas vezes as mãos espalmadas do outro em nossos corações massageiam nossas forças e estimulam a motivação para viver.
Essas mãos faltaram para Camille Claudel. A sensibilidade e a libido sublimada em arte expressas nas obras criadas por ela, muitas vezes mais expressivas e intensas que as de Rodin, se perderam. Transbordaram em falta de propósito e se transformaram em sideração e inabilidade para viver.
"Valsa" de Camille Claudel

A vida sem laços nos faz siderados. Faz a pessoa orbitar sem capacidade de aterrissagem no plano do real.
Os elos afetivos saudáveis contribuem para a percepção de que a vida é praticável e pode ser prazerosa.
"A Catedral" de Auguste Rodin - foto de Vitoria Liberal Lins

Como afirma o conceito psicanalítico: o Outro é concebido como um espaço aberto de significantes que a pessoa encontra desde o ingresso no mundo.
Diante dos grandes sofrimentos, esse grande outro caloroso, pode ser simbolizado como um fiador, que assegura valores para que a vida possa ser resgatada sempre para a boa continuidade...
Como afirmou Lacan: “Na neurose há a ruptura da fala plena entre o Sujeito e o Outro”.
O “Outro” completa simbolicamente nossas falhas e supre o nosso interior das lacunas do amor pleno. 
O “Outro” nos abranda.
Respondo, portanto que se há algum aspecto a ser olhado como primordial é a consciência do papel do “Bom Outro” em nossas vidas.
A minha tarde de sábado foi um belo laço as boas razões de enfrentar, trabalhar e se cuidar. Assim através da tríade positiva de enfrentamentos, trabalhos e cuidados me fiz inteiro para aproveitar a presença de quatro grandes vínculos naquela tarde de sábado que abrandaram deliciosamente a minha existência...
O que considerar prioritário?
Caminhe contra a corrente atual da superficialidade dos laços e cultive elos de amizade e amor.
Freud afirmou que se Cura por Amor. Quando encontramos uma fonte para amar encontramos uma direção para caminhar.
Ao criarmos laços com o “Outro”, criamos pontes pelas quais poderão passar as energias de apoio e estímulo à continuidade. 
Os bons vínculos nos vinculam à vida.

Imagens: Google e GettyImages

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Invejas

Outro dia me perguntaram se a inveja era realmente um sentimento nocivo e se as “maldadezinhas” sociais eram atitudes derivadas dela e ao final me lançaram a seguinte pergunta:
“Manoel, o que é afinal a inveja?”
Lembrei-me na hora do conto de fadas, em que as duas filhas da madrasta, feias e enciumadas da beleza delicada da filha do padrasto delas, tentam transformar a vida da Gata Borralheira num suplício. O trio de invejosas aproveitava a ausência do pai da linda menina para maltratá-la e humilhá-la.
Já se pode bem compreender que a inveja é um sentimento direcionado a algo bom. É um derivativo perverso do desejo de ser ou de ter um contexto ou mesmo algo.
Daí, a inveja das três pela beleza da gata borralheira, pela sorte do destino de alguém. Uma pessoa também pode invejar a família que você formou, a sua estabilidade emocional, a presença de pais amorosos na sua vida, a sua compra de uma casa, o seu sucesso, a sua viagem, a sua perda de peso, o seu cabelo e a cumplicidade que conquistou como casal. Pode também invejar a trajetória bem sucedida de seus filhos e a chegada de uma grande e boa notícia...
O invejoso tem sempre uma maldade contida no pensamento e tem o secreto momento delícia, como o anuncio da margarina em que no provador de uma loja diante de duas vendedoras a apresentadora Fernanda Lima não consegue fechar uma calça... Elas suspiram de prazer e alívio... Dá já para entender bem!!!
Fui assistir no Teatro Leblon, sala Fernanda Montenegro, a peça “Cruel” com Gianecchini, Maria Manuela em excelente atuação e Erik Marmo, num texto do teatro íntimo de Strindberg, onde disse que nesta concepção ele iria mostrar a vida em breves instantes. Em uma montagem de setenta minutos, testemunhamos o perverso e o sutil plano de um marido abandonado, para destruir o segundo casamento da ex-esposa. Com esta finalidade se aproxima do atual marido dela sem que ele pudesse supor que era o ex e se faz de amigo. O personagem de Gianecchini estabelece um mímico laço de cumplicidade e amizade de modo a despertar a confiança e fazer com que o outro abra o coração e se deixe influenciar pelas palavras escamoteadas e maléficas... Palavras cruéis. Neste intento derivado do despeito e da inveja tenta destruir o que desejava, mas não mais poderia ter. Tenta minar a segurança da ex através das sutis insinuações que ela estava envelhecida...
Quantas vezes podemos testemunhar esses comentários venenosos!!!
A inveja é um sentimento muito mais presente no cotidiano do que as pessoas imaginam. Ela pode ser uma admiração envenenada.
Conheço a história de uma mulher que admirava tudo que a irmã havia conquistado: o casamento; a família e a satisfação, mas a realidade da outra representava um desejo que não foi realizado. Quando nasceu o caçula e a irmã a chamou para ser madrinha, foi suscitando nela uma inveja que despertou um ressentimento pela vida que a tornou uma solteira amarga e crítica, maníaca. Quem já não viu a boa solteirona, mas que é no convívio uma mulher tensa e crítica?
Já vi também noras terem comportamento hostis com os sogros e a sogras por no fundo invejarem a aura familiar de cumplicidade e de amor que os constituem no contexto.
De fato a arte imita a vida.
Quando testemunhamos nas novelas, nos seriados cenas de inveja como no filme Desejo e Reparação do diretor Joe Wright, em que conta a história de Briony de treze anos que usa a imaginação de escritora para acusar Robbie Turner, filho do caseiro e namorado da irmã mais velha dela Cecilia, de um crime que ele não cometeu. A acusação destruiu de forma dramática o destino das pessoas envolvidas. Por desejar Robbie e invejar a condição de mulher da irmã, arma este plano perverso. 
As situações podem parecer exacerbadas para o plano real. No entanto a vilania é muito mais presente do que as pessoas imaginam e por vezes acontecem em comentários maldosos disfarçados sob o tom aveludado da fala nos almoços nos clubes e mesmo nas reuniões de trabalho.
No conto da gata borralheira, as irmãs postiças invejam a beleza e a juventude... Em outro conto, temos a história da bruxa má que envenena a maçã para colocar a Branca de Neve no sono da morte. 
Estas histórias narram e anunciam as questões do desejo e da derivação invejosa que a condição positiva de uma pessoa pode suscitar, mas as pessoas têm preconceito em enxergar que quem nos ama pode viver este sentimento de modo ambíguo, pois nele poderá encontrar contida a inveja.
A inveja é um ciúme da boa destinação do outro. 
Temos atualmente na novela Amor a Vida o ciúme invejoso do Felix pela irmã amada pelo pai que o rejeita. Encontramos na Bíblia a inveja assassina em Caim por Abel.
Na crônica do Veríssimo no O Globo, intitulada “A Explicação” ele escreveu: “Já se especulou como a História seria outra se Adolfo Hitler tivesse se tratado com seu conterrâneo e contemporâneo Sigmund Freud, em Viena. Curado de seus complexos e fobias, Hitler teria abandonado a ideia de dominar o mundo e se contentado em dominar um só quarteirão...”
Talvez, através desta suposta análise, Hitler tivesse um menor sentimento de rejeição e inferioridade e com isso conseguisse eliminar nele a necessidade desmedida de busca de poder para compensar a falta de valor que carregava em si. Quem sabe teria menos ódio daquilo que não havia obtido em sua vida e teria menos inveja daqueles que desejava dominar e daqueles que queria eliminar? 
O Vilão maltrata apenas quem é significante aos olhos dele, quem representa algo que o toca e por isso o incomoda. 
Barrar o Hitler na academia de belas Artes em Viena e outras tantas vivências de rejeição gerou naquela estrutura o “Invejoso” e “Tirano Perverso”... A História fala por si.
Portanto as situações de felicidade, de contentamento e de alegrias, trazem os bons destinos, mas aportam junto o olhar hostil e envenenado daqueles que não conquistaram e não souberam fazer um apaziguamento da própria frustração.
Respondendo a pergunta sobre se de fato a inveja existe nos próximos.
Digo: Sim.
A inveja pode existir em todos nós de alguma maneira.
Diante deste “Olho Grande” o que fazer?
Primeiro compreender que quem inveja está destituído de algum senso de autoestima, de algum senso de valor e carrega uma falta de si... Carrega frustrações sem elaborações...
Envenena com ressentimentos o coração.
Envenena a maçã.
O antídoto?
Exercitar o olhar de gratidão sobre as próprias conquistas para que possa a ternura que brota limpar a venenosa inveja.
Contra o veneno alheio?
Do Olho Grande se defende com Olho Vivo!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Felicidade... Mágica ou Magia?

Alguém me disse outro dia, que achava que a felicidade era reservada somente para algumas pessoas iluminadas.
De fato a ideia da felicidade é encantadora nos magos e nos líderes espirituais. Inspira divindade. 
A perfeição que parece isenta de esforço para existir, se torna mágica aos olhos da humanidade. Uma pessoa que pareça naturalmente bela inspira também divindade... A ideia da falta de esforço em ser algo desperta o conceito do eleito, do abençoado e isto mexe com a fantasia de muitos.
Por que tudo isso?
Porque o esforço lembra dificuldade, rigor, trabalho e o que acaba por quebrar o encanto.
O cantor de ópera que canta uma ária sem demonstrar qualquer preocupação no que faz nos parece mágico. Torna-se um iluminado.
O ator que encarna o personagem e nos leva a esquecer da própria identidade, nos parece incorporado e iluminado.
Por esses aspectos é que algumas pessoas, quando se deparam com a realidade de que o equilíbrio emocional e a limpeza de um ressentimento envolvem um trabalho que é destituído de qualquer milagre, se decepcionam. A partir daí, passam então a viver uma gradual desistência do que ambicionavam. 
A mobilização de muitos é estimulada por uma ideia de receita rápida e miraculosa.
Por que isso acontece tanto?
Porque simplesmente acham que a felicidade deve ser algo divino e quem a tem a tem... Está incorporado numa genética abençoada, rara e única. 
A conquista da perfeição sobre a imperfeição envolve uma construção.
Ser uma pessoa leve, ser segura, ser mais independente está longe de ser uma conquista de um só golpe, de um só dia, e, portanto nem tampouco de uma só sessão de análise.
Um lado profundo da humanidade detesta todas as conquistas que envolvem esforço num tempo maior. Na mentalidade das pessoas no mundo atual as dietas devem ser mágicas e as perdas de peso no viver também.
Detox de vinte quatro horas para retirar todos os excessos e todos os complexos.
Estamos vivendo o império do não esforço prolongado.
Análise relâmpago... Aprendizados em uma só aula... Impaciência para retomada de temas... Impaciência para a reconstrução de afetos.
Fui assistir a peça “Rain Man” no teatro dos Quatro aqui no Rio de Janeiro, com Marcelo Serrado no papel de autista. Ele estava tão habitado pelo personagem que em certos momentos nos sentíamos integrantes daquela realidade. Um teatro lotado em silêncio e posso dizer que todos da plateia estavam tomados pela fluidez com que o personagem acontecia. Parecia não haver esforço nas difíceis modulações de voz, nas contrações do rosto e nas contorções das mãos. Ao terminar o espetáculo os aplausos foram de pé, mas para quem tem experiência de assistir peças fora do Brasil vê-se que nesta terra os aplausos são intensos, mas curtos.
Li em certa ocasião que os aplausos são para despertar os deuses para abençoarem aqueles que trabalharam algo de maneira profunda e disciplinada e se apresentaram de forma divina e encantadora. 
Os aplausos são, portanto um chamado às divindades para que eles possam jorrar dos céus recompensas pelo lindo trabalho realizado.
No Brasil muitas vezes este “chamado” é tão rápido, devido aos curtos aplausos apesar de intensos, que os “deuses” mais sonolentos, ou distraídos não são mobilizados, o que deve fazer com que os artistas saiam muitas vezes sem essas bênçãos finais... Penso que a mecanicidade do mundo de hoje abrevia e banaliza a noção do trabalho do outro.
No dia seguinte fui assistir no teatro Leblon, sala Tonia Carreiro, o espetáculo “Nós Sempre Teremos Paris”. Algo leve que faz a nossa alma sonhar.
A peça está calcada num aspecto da vida humana: aquele em que a sorte se apresenta, mas as pessoas a deixam passar. Nela um homem e uma mulher, dois brasileiros, se conhecem por uma mágica do acaso num café de Paris do Boulevard Montparnasse, mas por estarem presos nas próprias inibições deixam a chance escapar. Passaram vinte anos cada um em suas vidas, sonhando com aquele momento.
Diante dessa história, me coloquei a pensar em todos aqueles em que a vida apresenta uma oportunidade, uma circunstância favorável, uma chance para algo desejado, mas não se responsabilizam, não se mobilizam para realizarem o desejo através da parcela de trabalho, ou com o compromisso com os processos que envolvem a construção do que se quer para si. 
Ficam no querer queria. 
Desejam magias sem mágicas... As mágicas envolvem truques. Para realizá-las necessita de treinos disciplinados com o aprendizado de técnica e muito trabalho.
Muitos querem que a feiticeira balance o narizinho, ou que um gênio esfregue a lamparina para que tudo se transforme.
Outro dia no jornal O Globo, seção de Histórias em Quadrinhos, havia uma chamada: “Bastidores das Historias Infantis” em que tinha no desenho o Lobo Mau diante dos três porquinhos onde se dizia:
“Vocês sabiam que quando um Lobo Mau toma posse do cargo tem que fazer um juramento solene?”
Nesta historinha entre tantas mensagens ressalto uma: para ser Lobo Mau tem que fazer um juramento de estar imbuído de tudo que o envolve e o perfaz.
Para ser o Lobo Bom também.
Depois destas reflexões, quando me falarem que a felicidade é derivada de uma benção divina para poucos, defini para mim que vou concordar... Vou afirmar que sim...
Por que? Porque percebo que infelizmente são poucos os que querem assumir a realização do trabalho profundo do equilíbrio para a vida. Um processo que é “mágico” e que faz “magia” para quem o elabora muito. 
Quando me perguntarem sobre uma receita, vou passar uma para a felicidade que é mágica... A receita?
Aí está:
1 Kg de desejo;
500 gramas de disponibilidade;
Uma colher de sopa bem cheia de decisão;
Duas xícaras de perdão ao destino;
Uma colher de chá de propósitos de vida.
Misture tudo durante muito tempo. Unte uma forma com amor próprio. Coloque a mistura na forma. Polvilhe com crença. Ponha no forno das suas elaborações.
Deixe aquecer com a sua perseverança.
Depois de pronto, decore com pitadas de gratidão e sirva a sua realidade.
Excelente para celebrar os recomeços.
Depois de você exercitar a receita da felicidade e passar a viver com naturalidade a sua nova habilidade em ser... Aplauda a si com generosidade e fervor para que os “deuses” possam ser despertados para abençoar a sua nova atuação de vida.

Imagens: GettyImages

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Admirar e Ser

Cheguei ao verão parisiense após 22 anos sem revê-lo.
Já havia me esquecido da versão solar que a cidade possui. Minhas longas e inúmeras experiências no inverno me fizeram perder o contato com a memória de como era.
Encontrei uma Paris luminosa até as dez e tanto da noite e me coloquei a pensar como esta cidade consegue se adaptar e se transformar, trazendo à tona novas facetas de si. São calorosos jantares sobre as calçadas a céu aberto e ela completamente desnuda dos aquecimentos necessários ao inverno, abrindo-se ao azul que permanece como se tivesse preguiça de desaparecer.
Pensei nesta aptidão de se adaptar, transformar e oferecer a quem ali estivesse o melhor de si naquele contexto. Pensei em como ela deixou o inverno tirar férias e se entregou para o que deveria existir naquela época.

As árvores, que sempre encontro secas como se estivessem desnutridas, tornaram-se fartas e generosas em suas folhas verdes. Elas do fundo de si retiram a condição para o brotar. Nosso olhar pode aprender que árvores não são coisas, não são objetos. Como elas, podemos deixar de ser objetos ou coisas inanimadas para sermos vida em renovação.
Minha mãe outro dia me disse: “Sabe que não me sinto envelhecer? Tirei, continuou ela, a conclusão do porquê: o que envelhece é o que passou e ficou para trás. Sigo as novas visões e me refaço na vida através delas, pois para se fazer vida tem que se conceber todo dia. Caso contrário você se perde no que foi e já não é... Você desaparece com o desaparecido mesmo que permaneça organicamente viva”.
Pensei muito através dessa afirmação nas pessoas que se fazem incapazes de existir em cada estação da vida. Se estão no inverno não reagem e com isto se tornam frias, sem disponibilidade para encontrarem em si aspectos sensuais e acolhedores para viverem com criatividade.
O inverno em muitos países é o período de uma intensa atividade, diversos eventos e de grandes espetáculos. Com o ser humano o processo pode ser semelhante. Cada pessoa que se renova em seus próprios desdobramentos se torna instigante e profundamente interessante.
Mas... Como aprender a ser?
Nietzsche o disse muito bem: quando Napoleão admira Alexandre O Grande, não é para imitá-lo; é para se tornar um melhor Napoleão.
Mas para se tornar Napoleão é necessário compreender como Alexandre se tornou Alexandre O Grande. Admirar Alexandre é observá-lo nas particularidades que evidenciam as nossas possibilidades. A versão de um exemplifica, demonstra e através da nossa admiração pode nos ensinar.
Nós esquecemos seguidamente de admirar uma referência para alimentarmos o centro de nós e com isto conseguirmos parâmetros para refletirmos a evolução possível em si diante da própria vida.
Quem você admira?
Se passarmos a amar o processo de admirar como também afirmou Descartes, daremos o primeiro passo na constituição de ser, pois constituir é ultrapassar a si mesmo na direção do engrandecimento do Eu. Este processo sempre será possível através do exemplo de um outro admirado.
Quando vi Paris transmutada em verão, vi através dessa referência as possibilidades de transmutarmos.
Sempre me entusiasmo quando percebo alguém que tenha passado pelos caminhos do outro e que assim aprendeu a olhar e desta forma exercer outra voz e através dela dialogar com as circunstâncias de maneira mais favorável a si mesmo.
Viver é aprender através do olhar sobre as coisas e sobre outras pessoas.
Afinal, como afirmou Simone de Beauvoir, “Não há uma polegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro”.

Escrevo esta crônica em Búzios, de volta a pousada que existe desde os anos setenta, mas que sempre evolui e com isto se transcende. Nela através do testemunho do meu olhar admirativo, aprendo que o bom funcionamento, depende do que cada um realiza com foco e carinho. Como costumo passar longos períodos, percebo sempre detalhes de cada dia, desde as tarefas cotidianas, quanto as criações dos climas para cada momento: cinema ao ar livre, espumante para acompanhar o por do sol, velas por toda parte quando anoitece, perfumador de ambiente... Aqui ao observar a dinâmica desta pousada me inspiro na criação, na vontade de viver com climas internos, criando ideias que sensualizem minha alma. Aqui através de olhar este outro me inspiro a retomar com serenidade quando sinto que perdi a leveza.
Dessa forma contemplativa e curiosa, sob o signo da ideia “nietzschiniana” de admiração, se faz o ser que admira para buscar novas inspirações para o modo de ser.
Ao se olhar o que evolui e o que se desdobra em criação e desenvolvimento, abrimos a alma a experiência de ver o diferente na busca do igual.
Você tem buscado aprender a ser, a olhar o outro?
Você busca criar novos modos de ser?
Naquela Paris solar onde iniciei minha pausa de julho, nesta Búzios na qual a finalizo encontro a paz desta Pousada Casas Brancas. Encontro neste espaço buziano a mentora. Dona Amália, me faz sentir Napoleão, querendo ser outro. Querendo ser um desdobramento evolutivo de mim através da admiração por outro. A admiro para ser como ela continuidade com originais e elegantes desdobramentos.
A felicidade é de fato a gratidão que nossa alma sente ao oferecer chances de fazê-la existir com poesia nas diferentes estações da vida.
Viva Búzios... Viva Paris e, sobretudo Viva Todos os Aprendizes de Si Mesmo.
Viva Admirar e Ser.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Novo Curso Capacidade de Existir - Reformas

"O que destaca em você como significativo?
Você sabe avaliar com precisão o seu modo de organizar a sua vida?
Qual fatia de sua existência atual tem mais peso?
Se tivesse uma única chance o que mais modificaria em si?"

Turma 3ª feiras das 14:30 h às 16:30 h
Início: 06 de agosto - Término: 24 de setembro

Turma 4ª feiras - Turno da Tarde das 14:30 h às 16:30 h.
Início: 07 de agosto - Término: 25 de setembro

Turma 4ª feiras - Turno da Noite das 19:30 h às 21:10 h
Início: 07 de agosto - Término: 25 de setembro

Informações e Reservas: (21) 9983-5751 (ILANA)
Local: Centro de Eventos do Ed. Leblon Corporate
Rua Dias Ferreira, 190 - Leblon - Rio de Janeiro

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ser Outro em Si Mesmo


Escrevo esta crônica sentado na poltrona de um pássaro mecânico, destes bem grandes que o ser humano criou e que através deles aproximamos fronteiras e nos capacitamos a ver este planeta do alto...
Estou rumo à Paris em mais um encontro com a cidade que tanto aprendi. Desta vez por pouco tempo, mas quebrei com esta decisão o meu ritual de só atravessar o oceano rumo a Europa quando dezembro chega... Desta vez vou visitar o verão.
Serão 12 dias para providenciar algumas coisas e rever afetos. Estava tão condicionado a durante 21 anos passar três meses por lá, que considerava um pouco perdulário vir como se fosse um mini feriado em relação ao longo período que sempre permaneço.
Com esta vinda quebrei um hábito e isto me suscitou a pensar em todas as camadas que sobrepomos a nossa pele psíquica e que nos leva a grudarmos formas de ser que nos aporta a modos sonolentos de vida em repetições quase inquebrantáveis.
Repetimos por vezes nosso modo de ser, tão arraigados que como sonâmbulos vivenciamos nossas decisões sem percebermos outras maneiras de fazer a mesma existência.
Gosto muito de viajar, mas ultimamente venho sobrepondo um medo de voar que começou a envenenar o meu prazer. Isto começou a me incomodar.  Quantas coisas surgem em nossas camadas de ser que quando nos damos conta estamos encobertos por aspectos de nós bem improdutivos.
Percebi um aspecto da minha personalidade  começar a se tornar governante do meu modo de ser... Eu me percebi como um hóspede de mim mesmo... Eu me percebi obedecendo a um sentimento determinado por outro que se apoderou de mim: o medroso de voar. Quantos se tornam hóspedes de si mesmo... submissos... sem comandos.
Como li certa ocasião de uma cantora que dizia mais ou menos assim: “Gosto do relato de não termos poder sobre o exterior, mas temos plena autoria do modo pelo qual o vemos... O que nos faz preocupantemente responsáveis sobre nossas reações e sanidade.”
Somos a princípio cobaias do destino que joga experimentos sobre nossa vida, mas podemos ser ratinhos de laboratórios bem rebeldes ao estabelecermos reações totalmente voluntárias, para darmos bom cursos a nossa existência. 
Hoje enquanto o avião estava na cabeceira da pista, despertando a potência para a decolagem decidi que iria arrancar esse medo que se tatuou em mim. Subi com a potência do motor da decisão e me exclui daquele de mim mesmo que se contorcia ao invés de olhar o voo do pássaro... Arranquei mais uma coisa de minha cavidade do ser que se tornara como uma pele que me acovardava. 
Dou a você um conselho de boas vindas, daquele recém-chegado a um novo sentir, para você ser mais leve: se entregue a ser outro em si mesmo.
Tire alguma crosta que tenha grudado em você e renove a sua pele psíquica. 
Que tal a retirada de um medo que muitas vezes nada evita, ou uma busca de controle contínuo que exacerba sua convivência, ou mesmo algum desejo delirante que esteja a tornando com ideia fixa?
Deixe de ser hóspede do seu modo de ser. Olhe para dentro e se diga: “Pode entrar a casa é sua.” A partir daí mobílie seu amplo espaço psíquico com elementos que façam você passar pela existência de modo mais confortável.
Seja a partir daí inédito em si mesmo. 
Nesse exato momento o avião treme... Mas decidi que vou passar por esta experiência como titular do que quero sentir. 
Tem uma frase de um poema de Manoel de Barros que diz: “Deixei uma ave me amanhecer.” 
Deixei essa vontade de estar acima de quem me governava me amanhecer... Acordar-me.
Quando se está torto?
É só se aprumar. Se entregue ao bom voo de si... Seja outro em si...

Boa viagem.
A minha já começou para o mesmo lugar que vou há tempos, mas estou diferente e tudo a partir deste meu ineditismo ficou diferente.
Vá encontrar o seu verão...
Vá encontrar uma nova destinação de si.
O que mais encanta numa viagem é o desconhecido, essa falta de familiaridade que excita... Portanto você pode fazer uma viagem interna para descobrir novos modos em você mesmo, que levarão a fazer as mesmas viagens com muito mais prazer.
É uma delícia encontrar novos destinos na própria personalidade.
Vou encontrar o verão europeu e retorno com a nova crônica e o novo curso no dia 06 de agosto.
Para que destino você vai?
Para os medos? Para o seu complexo de rejeição? Para a desilusão? Para a sua eterna mania de reclamar? 
Nossa! Essa viagem é muito chata!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Você se Parece Com o Que?

Toda vez que entro de férias do curso que ministro no Leblon, deixo de lado os livros tão presentes em minha vida e me ponho a ser pesquisador em banca de jornal.
Adoro, para descansar a cabeça, folhear revistas e como um devaneio descompromissado me ponho a ler uma a uma. São pinçadas revistas de decoração, de psicologia orientada para o público feminino, bem como outras tantas.
No sábado estava com espírito buscador de ineditismos e lá fui com olhos aventureiros a procura de algo novo. Encontrei uma revista linda, folha e capa de primeira e com adrenalina comprei-a. 
Preparei-me para fazer a descoberta e com a manta me aninhei. 

Ao abri-la vi que se tratava de uma revista sobre festas cool e DJs. Que decepção a minha. Nada a ver comigo. Só tinha comprado esta. 
Nada a fazer!
Comecei então a pensar nos questionamentos que havia colocado no quadro na última aula deste semestre.

“- Qual a sua maior identificação atual?”
  - Você está parecido com o que?
  - Você está parecida com quem?”
A minha revista estava destituída de qualquer elemento identificatório comigo. Era um significado que não se tornou significante. Eu, portanto não tinha identificação alguma com ela.
Pensei nas identificações que temos na vida.
Você pode se identificar com mar ou piscina, cidade ou floresta, com cão ou com gato, com filme francês ou americano, com cabala ou com o budismo. Cada coisa irá definir a sua pessoa, o seu estilo e o seu perfil.
Mas além dessas existem também as identificações com as circunstâncias, com os sentimentos, com as realidades e com os acontecimentos positivos ou negativos.
Você já se fez esta pergunta? Já se indagou o por que você carrega um sentimento há tanto tempo?
Você está parecido com o que? Com o abandono que alguém trouxe a você e passou a viver como abandonada?
Você está parecida com o vazio de uma ausência e se tornou o vazio?
Está sem perceber fixada nas situações que criam apenas os sentimentos ruins? 
Deixou de se identificar com as coisas que estão corretas e boas e está projetada nas identificações negativas?
Se sim, está então na leitura da revista errada que não trará nada de construtivo para você.
Identifica-se apenas com os vazios, as doenças, os remorsos e as faltas? Tem dúvida que o seu rosto será o reflexo do que você se identifica?
Como Freud afirma, é através das nossas identificações que estruturamos nossa realidade psíquica e através dela é que vamos sentir a vida.
Tornamo-nos coerentes com aquilo que nos fixamos, identificamos e introjetamos.
Se você só se alimenta das coisas que faltam ou que estão com defeito de modo algum poderá sentir satisfação em si mesmo, em relação à vida ou em relação à alguém.
Somos modelados através daquilo que mais olhamos.
Toda vez que alguém descobre no curso que sou filho da Virgínia, aquela que realiza palestras sobre testemunhos de vida em vários locais, ouço: “Você se parece com ela.”
É fato! No modo de ser por me identificar com muitos aspectos dela e também de meu pai, assimilei e tudo passou a fazer parte da minha psicológica corrente sanguínea.
Já percebeu se você está reproduzindo algum padrão de comportamento da sua avó melancólica?
Você está parecido com o seu tio amargo?
Você está parecida com a sua mãe ressentida?
Você se torna a imagem e semelhança de suas identificações conscientes ou inconscientes.
Encontrei por acaso um conhecido que há muito não o via e que me contou que teve um problema no ligamento do tornozelo esquerdo. Contou-me que ficou um mês sem poder colocar o pé no chão. De muleta depois de uns dias se tornou impossível andar, pois machucava a palma das mãos. Disse-me que se pôs a encontrar uma solução. Como atendia em casa para trabalhar era mais fácil, mas para realizar a rotina diária tudo estava complicado. Parou, pensou com identificação em encontrar uma solução e a mente então trabalhou sob este comando e criou uma alternativa para ele: Imaginou uma mochila nas costas para carregar o que precisava de um lado para outro e para ficar livre da muleta passou a engatinhar... Ao se dar esta solução encontrou um modo de se perspectivar. Impediu-se de se identificar com a limitação e buscou uma identificação operacional, produtiva e positiva.
Mudou o seu foco. Olhou e elegeu para se identificar com a perspectiva de uma solução.
Mudanças de foco é um ato de amor, de amizade a si, de generosidade e gratidão com o tempo que a vida nos oferece para viver.
Ganhei na última aula de uma aluna um livro intitulado “Poesia Completa de Manoel de Barros” da editora Leya, que achei a minha “cara”! Ao abrir me deparei com um trecho que transcrevo:
“Ando muito completo de vazios.
Meu órgão morrer me predomina.
Estou sem eternidades...
Enfiei o que pude dentro de um grilo.
Essas coisas me mudam para cisco...
Estou deitado em compostura de águas.
Na posição de múmias me acomodo.”
Assim se fez este interlocutor... Enfiou a vida em algo mínimo, que o fez cisco, e se posicionou como múmia a espera de outra vida para viver... Se tornou isso pois assim elegeu esta forma de ser para se identificar. Se fez pequeno, se fez cisco e se tornou múmia. Engessou-se para as perspectivas e se tornou petrificado.
Você sabe se dizer?
Vai se colocar deitado como múmia a espera de outra encarnação para ser o que pode ser agora?
Comece engatinhando... Com o tempo você irá se equilibrar nas boas identificações. Naquelas que trazem a melhor versão de você mesmo.
Eu, como se diz, não morri na praia.
Fui à banca, expliquei-me e troquei por outra revista.
Remova as identificações que mumificam e engessam as linhas negativas de ser.
Escolha bons momentos para se identificar, boas pessoas para se modelar e se perspective através das identificações positivas.
Saiba Ser.
Você se parece com o que?
Pode ter certeza: com aquilo que você escolhe para se identificar.

Imagens: GettyImages



segunda-feira, 1 de julho de 2013

Afogado em Si ou Salvo?

Desde sábado estou com uma indagação que será a essência da aula que irá, nesta semana, encerrar o semestre letivo.
“O que você precisa fazer para dizer daqui a um ano que a sua crise atual foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com você?”
Essa reflexão me reportou aos meus dezoito anos, em que após ter feito vestibular para medicina na Gama Filho e ter ficado em reclassificação, decidi fazer vestibular para Administração de Empresas na Cândido Mendes-Ipanema, pois tinha muitos amigos que estavam naquela faculdade. Passei, tomei a decisão de cursá-la e mesmo sem ter sido uma escolha de vocação fui até o fim.
Acabei por me tornar aos 23 anos professor assistente da cadeira de O&M para a turma do segundo período de Administração e da cadeira de TGA para a turma de Direito e posteriormente fui convidado para dar aula na Fundação Getúlio Vargas, nos cursos do Cademp onde ministrei por 5 anos a cadeira de O&M. Aos 28 anos trabalhava na Supergasbrás além das atividades simultâneas de professor.
Apesar da competência e do sucesso detestava esse mundo de escritórios e ambição de escalonar cargos e chefias. Comecei a perceber que a minha tristeza estava relacionada ao fato da minha alma estar fora do lugar. Me inseri numa realidade na qual ela não se reconhecia  e que eu não tinha identificação alguma.
Um dia, diante de uma profunda tristeza, olhei pela janela do 13º andar do escritório no Centro do Rio e me fiz a grande pergunta: “Você vai aguentar essa profissão para o resto da vida?” Me lembro que tive medo da resposta e com coragem respirei fundo e deixei-me escutar a voz do meu pensamento portadora da grande verdade: “Não pertenço a este mundo no qual me inseri... E não quero aguenta-lo”.
Essa pergunta que me fiz me reporta a grande questão Nitzchiniana - “Você poderia viver a vida que você está construindo por toda a eternidade?”.
Comecei a partir daquele momento a me organizar mentalmente e financeiramente para mais tarde dar o grande passo da minha existência. Aquele que me trouxe a este momento.
Abandonei o que deveria ser abandonado e iniciei uma outra carreira. Tudo com muitas dúvidas, mas com uma grande sensação de liberdade.
Às vezes temos que fazer escolhas profundas para construir a vida que vale a pena ser vivida.
A vida que tenho hoje é fruto da minha decisão.
Somos sempre o resultado de nossas escolhas, sejam elas covardes ou corajosas.
A grande crise daquela época se tornou a grande oportunidade porque a vi como forma de Reinvenção.
Li na coluna Gente Boa, do jornal O Globo da edição de domingo, 30/06, o triste destino de Sonia Schuller, ex-miss, ex-namorada de Rubem Braga, na excelente matéria de Cleo Guimarães. Aquela que era favorita no concurso de Miss Guanabara 1964 e que se tornou vice ao perder o título para Maria Raquel de Andrade, acabou como pedinte nas ruas de Ipanema e Leblon. O irmão diz que a desgraça da vida dela começou em 1986 depois que a moto a atropelou perto da Praça General Osório em Ipanema. Diz ele que naquele dia ela perdeu os dentes e a autoestima.
O que aconteceu com a Sereia?
As esperanças foram atropeladas, perdeu os dentes e deixou de sorrir para os sonhos que a movia.
A Sereia lamentavelmente se tornou um esqueleto de peixe desolado. A mesma que recebeu uma ovação unânime que a levou a ser a capa da revista O Cruzeiro é a que se torna matéria do O Globo.
A Sereia se afogou nas desilusões da vida quase desistida...
Olho a foto dela hoje e percebo a menina afogada, mas ainda viva.
Perdida na intensidade dos sustos e das decepções foi se clivando até se tornar dividida e portanto fracionada na capacidade de permanecer com discernimento diante da vida.
A vida exige olhos corajosos, exige pulso sobre o destino e a contínua descoberta de motivações para viver.
Penso no meu menino Manoel que encontrou a motivação que me fez ultrapassar tantos atropelos sem perder a bússola que me indicava o caminho dos meus propósitos.
O importante é que a cada acidente, a cada atropelamento de sonhos ou de escolhas, se saiba sempre coroar a ideia que cabe muitas boas versões de você mesmo numa mesma vida.
No fundo a Sonia esta longe de deixar de existir, ela ainda guarda uma princesa, apenas desistida de segurar os bons pensamentos para se perspectivar com lucidez.
- Qual a versão da vida que posso me dar diante desta versão que a vida me trouxe?
- Qual é a vida que adoraria me orgulhar de ter construído diante daquela que o destino construiu para mim?
Enquanto há vida há sempre alguma forma da sereia sair do fundo do mar...
Hoje escrevo esta crônica porque me apropriei de mim mesmo. Porque num dado momento tomei a decisão... Porque não quis atropelar o que minha alma sonhava. Não me afoguei nos dilemas.
Abandonei um papel para encontrar a minha pessoa.
Posso dizer que me comoveu ver a sereia desistida devido às tantas desistências que vejo de outras sereias e de outros botos.
Vejo tantos sonhos se afogarem e se tornarem banhados de lágrimas...
O Brasil ganhou a Copa das Confederações num jogo de potência...
Para ganhar suou muito a camisa...
Melhor suar a camisa no jogo... do que molhar os lenços nos lamentos das desistências...
Viva o Brasil!!!
Salve, Salve as sereias dos afogamentos...
Salve sempre a si mesmo!
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Se tivesse afogado minha alma nas desistências, jamais teria chegado a este momento do livro e da crônica. A essência destas letras pensadas, está no exato momento em que olhei da janela e decidi, apesar do frio que senti em meu interior, que não era honesto de minha parte ser infiel à vocação que a vida me aportou. Mais do que estar nessas listas, mais do que vencer concursos, o importante é sempre fazer de olhos abertos a vida que vale a pena.
1) Lista dos mais vendidos da Livraria da Travessa:

O Castelo de Papel
Mary Del Priori

1942 O Brasil e sua Guerra quase desconhecida
João Barone

Tempos Faturados: Cultura e Sociedade no Século XX 
Eric Hobsbawn

Pense Bem: Ideias para Reinventar a Vida
Manoel Thomaz Carneiro

Crianças Francesas não fazem Manhã
Pamela Druckerman


2) Lista da Revista Veja Online: 
Livro Pense Bem – ocupa o 14º lugar dos mais vendidos em todas as seções.